O labirinto das palavras
Não posso mover meus passos por esse atroz labirinto.
Sinto que minhas conjecturas já não geram os frutos de outrora.
As letras embaralham-se zombando de mim, e as palavras, essas cretinas, não surgem mais com a fluidez que costumava ser de praxe.
Estaria eu, aos poucos, desaprendendo a raciocinar sobre as coisas mundanas?
Esta possibilidade me amedronta, pois se realmente estiver me tornando cada vez mais burro não há como garantir se amanhã ainda terei a percepção de saber menos que hoje. Afinal, não há como se saber sobre algo que já não mais se sabe, certo?
Talvez até estas próprias divagações estúpidas sejam o reflexo dum processo irreversível que enfraquece diariamente as minhas sinapses. Difícil dizer.
Mas e agora, José? Não posso ter certeza de nada, e, muito menos ainda, do tudo ou de qualquer outra coisa que se situe entre o nada e o tudo.
Só sei que nada sei, já diria o tal cara, qual é mesmo o nome? Rivelino? Não, não! Sócrates! Sim, Sócrates! Grande cara.
Neste exato instante me atento a uma coisa: Se estou mesmo cada vez mais burro, preciso aproveitar meus últimos lampejos de razão da melhor forma possível.
Desvendar a condição humana, quem sabe? Melhor tentar ainda hoje, já que amanhã pode ser tarde demais...
Pronto. Marcado. Três e meia, reunião com fornecedores. Quatro e quarenta e cinco, desvendar a condição humana.
E o que mais? Não sei. Não há mais muito que se fazer... Ou não. Preciso pensar.
Será que não há nenhuma forma de reverter esta situação sufocante?
Deve haver algo que possa ser feito para me livrar desse fardo horrível chamado ignorância.
Já sei: Nunca mais compro estas palavras cruzadas nível dificílimo. Sempre acabam em frustração.