O PORQUÊ DE SERMOS PRETERIDOS: OPINIÃO.
Neste último domingo (31.05.09), a Fifa divulgou a 12 cidades que serão sede dos jogos do mundial de futebol de 2014. Junto com essa lista constou o nome de Cuiabá como a sede representativa do Pantanal em detrimento da candidatura de Campo Grande-MS que aspirava essa indicação.
Tratava-se, apenas, de um teatro oficial, onde as pessoas que dirigem a Fifa, vestiam o traje do picadeiro para anunciar um resultado que todos nós já sabíamos, pois nós aqui em Campo Grande já tínhamos certeza que a cidade do Pantanal - a ser indicada - era Cuiabá.
Evidente que várias explicações podem ser dadas para o fato de nossa Capital não ter sido a escolhida. Nessas infindáveis hipóteses vem a forma com que conduzimos nossos propósitos, eis que tivemos de mudar o rumo de nossa programação em pleno andamento, quando observamos que os organizadores se equivocaram na estratégia quando ao invés de mostrar nossas opções e nossos pontos de atração, preferiram apontar os pontos negativos da Capital cuiabana. Perdemos um bom tempo para divulgar nossas belezas naturais. Está aí uma amostra de que falar de coisas negativas depõe contra a própria pessoa que expõe essa forma de discurso. Espero que isso sirva de lição e que os políticos passem a enxergar que em época de eleição ninguém mais aceita essa forma de conduzir uma proposta eleitoral, ou seja, denegrindo a imagem do opositor.
De outro lado, fica também a sensação de que os políticos cuiabanos são mais eficientes como mentores dos seus propósitos, pois, inegavelmente, a escolha passa também por critérios políticos, através das influências que seus pupilos tenham com o alto escalão da CBF e dos dirigentes da FIFA.
O próprio governador do nosso Estado deve absorver esse incidente para repensar um pouco sobre o seu grau de otimismo e, por vezes, até a falta de humildade que demonstra na mídia, quando trata de assuntos atinentes às suas prerrogativas como condutor dos rumos políticos e administrativos do Estado de Mato Grosso do Sul, pois não raras vezes o vemos dando entrevistas e apontando como certas algumas coisas que ainda dependem de estratégias e de decisões de terceiros. É evidente que o seu grau de otimismo também contagia em face da sua determinação e da seu empenho em conduzir os destinos deste Estado, no entanto, nem tudo na vida podemos centralizar como se a minha palavra fosse a última. Em algum ponto devemos admitir que outras pessoas tem razão.
O Presidente Lula veio aqui e vestiu a camisa que simbolizava a bandeira da nossa candidatura e se disse sensibilizado com a nossa maneira empregada na condução de nossa candidatura. Mas eu creio que isso não passou do momento em que entrou no avião para retornar para Brasília, pois o conhecemos "decor e salteado", por isso temos ciência das duas faces na sua postura de Presidente, já que o seu histórico no Planalto anuncia que não se trata de um político confiável.
Mas a minha perplexidade quanto a este assunto, não é o lado fraco dos políticos e nem todas essas hipóteses que possam ter influído para que fôssemos preteridos, mas sim a aterradora realidade que se acha realçada na mediocridade em torno do nosso futebol. Logo nós que fomos conhecidos nacionalmente nos idos de 70 através do grandioso Operário Futebol Clube, que hoje é um caco de vidro estilhaçado no chão do futebol. Diz o ditado popular: “Que há males que vem para o bem”. Essa assertiva popular é muito sábia. Quem sabe de hoje em diante todos que dirigem nosso futebol não possam estar se perguntando onde foi que eles erraram? É difícil para o povo imaginar que algumas pessoas que não possuem consciência possam estar refletindo, mas quando a “perda vem para o bolso” quem sabe esses homens não abram os horizontes da sua imaginação para repensar sobre tudo o que estão fazendo com o nosso futebol?
Aí eu me pergunto: Será que os homens que dirigem o futebol mundial não olharam esse cenário com olhos de lince e aí encontraram uma realidade morta? Sim, porque aqui em nosso Estado não existe futebol profissional. Há alguns times amadores que jogam um campeonato com o “apelido” de profissional. Assim, para quê gastar 400 milhões com a reforma de nosso “Morenão” (estádio de futebol), para que ele se tornasse ostentoso e bonito, para depois ser entregue aos morcegos, pois a torcida que vai ao estádio são no máximo duzentos torcedores. Para se ter uma idéia o Grande Operário Futebol Clube está na segunda divisão (de um campeonato amador) e quem divide os méritos são os clubes do interior de cidades com poucos habitantes, mas que gostam de prestigiar seus times. O Comercial Esporte Clube é uma miniatura de time de futebol. Na Capital, atualmente, só existe um time estruturado, porque patrocinado pelo Reverendo Mun (de uma seita religiosa) e que não tem torcida, a não ser alguns mercenários que ganham para ir com bandeiras desse clube ao estádio.
Por outro lado, é vergonhoso reconhecer que um Estado tão cheio de predicados naturais como o nosso possa chegar a essa degradação estrutural em torno de um esporte tão apaixonante e tão importante para aliviar o estresse das pessoas. Assim, todos nós que gostamos do futebol temos que ficar com os times do coração de outros Estados. Nosso histórico demonstra que nossos torcedores abrigam no coração times de São Paulo e do Rio de Janeiro. Isso é natural em face da mídia etc. O que não é natural e não termos nossas opções no próprio Estado, para de vez em quando ir ao Morenão ver nossos times do coração.
Enfim; “um rio de lágrimas” tomou conta de nossos conterrâneos, pois estamos chorando essa oportunidade ímpar que poderia desencadear novos rumos para nosso futebol. Paciência. Deus faz as coisas de maneira a mostrar que o caminho a ser percorrido não comporta uma viagem tranqüila. Deve-se buscar alternativas para que não venhamos a encontrar um atoleiro. Aliás, temos de achar um jeito de sair do atoleiro. Creio que o primeiro passo é eleger políticos que tenham compromisso com o futebol regional. Os times do interior conseguem montar times que se destacam em nosso campeonato porque os políticos apóiam. Em segundo lugar é fazer uma renovação em dirigentes que conduzem o futebol. Estes já deram demonstração que não precisam dessa evolução. Em terceiro lugar é buscar alternativas de torneios que ultrapassem nossa fronteira estadual e nacional. Temos Estados vizinhos mais estruturados que o nosso e que podem nos ajudar desde que venhamos a apontar idéias interessantes e que sejam atrativas para ambos os lados. Temos países vizinhos como Paraguai e como Bolívia que podem se unir e fazer torneios que chamem a atenção do torcedor.
No mais, só nos resta se conformar e esperar que essa derrota sirva de marco para novos horizontes em torno do nosso futebol.