O cara da Net Virtua
Da série "A Mudança", capítulo XV


Eu já tinha feito quatro contatos com a Net Virtua hoje. Eu já estava pronta pra acionar os direitos do consumidor e botar a boca no trombone contra a empresa que me prometeu um técnico aqui até o meio-dia... O sinal da TV tinha dado pau.

No primeiro contato um atendente muito simpático me ofereceu a vistoria do decodificador para hoje até meio dia. Achei ótimo! Ao meio dia e meia eu perguntei se viria o técnico. A moça disse: “Um momento que vou averiguar seus dados”... Ao voltar, ela disse: “Pelo que vejo, a senhora pediu um encaixe. Estamos aguardando...”.

Eu disse que não pedira encaixe coisa nenhuma e que o primeiro atendente me garantiu a visita até o meio-dia. Depois de esperar alguns minutos ela me disse para passar meu telefone para um breve retorno. Assim eu fiz...

Como eu já to careca de gente assim, sei que não ia dar em nada e voltei a ligar. Parecia que era a primeira vez que eu estava ligando. Eu disse que deviam estar gravando as coisas por lá e eu teria um registro também por cá... Todos muito educados, mas eu achei que aquela menina estava rindo... Pelo menos ela me garantiu que estariam em minha casa às 17 horas em ponto...

Às 16:30h eu liguei pra lá avisando que faltava meia hora para aparecer alguém – ou, então, eu iria implodir, depois explodir, deixando a Dona Menô colocar as mangas de fora, pensei silenciosamente.

Às 17:30 eu comecei a ficar brava, mas a Net me ligou dizendo que o técnico estava lá embaixo danando de apertar o botão do interfone, que, por sinal, está com defeito e eu aguardo a senhoria tomar vergonha na cara e pagar pelo conserto (Outra sacanagem que eu to alimentando aqui bem no fundinho, essa coisa de senhoria que se faz de rogada. Só fico registrando...).

O cara da Net era um senhor nordestino. Ele me pareceu ter bastante cultura e me passou ter muitas histórias de vida pra contar. Em 5 minutos ele consertou o ponto e ficou quase uma hora conversando comigo. Ele conversou sobre a vida e sobre a própria vida. Eu acho que ele falava sozinho... Certa hora ele disse: "Imagine se a senhora fosse uma médica...". Quando eu disse que era a própria, ele afirmou que sentia isso. Como eu estava mais pra Maria, a faxineira, ele devia ser vidente ou tinha investigado meu cadastro...

Ele não sentava no sofá, apenas se agachava no chão, conversando comigo, olhando bem para meus olhos. Eu acho que passou um pai-de-santo por aqui...

Por causa de nosso papo acabei confessando que não entendia por que muitos médicos incompetentes estão por aí fazendo fama e eu to tão dura. Ele disse que não era pra eu entender isso, pois assim foi determinado. Não questionei.

Ele saiu agradecendo a Deus por ter me conhecido (não sei bem a razão) e eu agradeci ao mesmo Deus por ter recebido em minha casa alguém com palavras tão doces.

A Net? Uma merda de serviço...

Os diagramas japoneses significam PROTEÇÃO E SAÚDE. Estão em um ponto estratégico de meu lar

Leila Marinho Lage
Rio, 31 de maio de 2009

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