Prevenir é mais lícito

Eu não consigo imaginar com exatidão a quantidade de pessoas, políticos ou não, que estejam a usufruir do erário às custas dos recentes flagelados das inundações no Nordeste brasileiro. Quantos não estarão indevidamente usando a miséria alheia em benefício próprio? Proceder decorosamente é prática rara hoje em dia. Não detraio ao escrever aqui, desse jeito, mas expulso do pensamento o que chega a febricitar-me no juízo como certo de que esteja acontecendo mesmo.

Como não podemos evitar que essas enchentes aconteçam sazonalmente, e agora com mais intensidade dado o efeito estufa, temos que paliar o desespero social dos que são afetados diretamente pela destruição. O que é inacreditável é o governo não ter, através dos anos, criado estruturas físicas que, nessas situações, pudessem abrigar as vítimas, acolhendo-as decentemente e minorando todo o tipo de sofrimento entre elas.

Entra ano e sai ano e nada de concreto se faz. Desacolhem-se as boas ideias das práticas esperadas pela sociedade. Parece que a defesa civil trabalha sem um olhar preventivo mais denso e justo. Prefere ser chamada para apagar o fogo a fornecer extintores de fogo e ensinar seus manuseios aos que possam vir a deles necessitar. Não educa para a fuga dos perigos das enchentes, antes oferece alimentos aos que já foram vitimados por elas.

Essas catástrofes são repetitivas. Atualmente têm se avolumado em número de episódios e em suas forças de apresentação. A natureza tem devolvido com mais vigor os males que temos lhe causado. É delegante ao Estado uma estruturação mais consubstanciosa às instituições de defesa social no sentido de seus aprimoramentos operatórios para que, frente a essas catástrofes, evitem um caos maior e mais duradouro.

O Estado continua morando na velha casa do passado, e seus interlocutores políticos na mais velha plaga esquisita do: “vamos ver o que acontecerá para agirmos”. A prevenção de uma maneira geral deve andar com passos ainda mais largos do que a ação frente aos seus sobreviventes. Não devemos dar maior valor à limpeza da fuligem, mas criar meios contra o enfulijar. Se o motejo político é ofertar alimentos aos necessitados perenes e vitimados do Estado, ao invés de criar meios para que o social seja bem mais forte e estruturado, não vemos nisso nada meritório e preservável. Ainda quando o verão ofertar-nos o sol cálido é que devemos ter a lucidez de construirmos meios de sanar ou minimizar os efeitos desastrosos das enchentes e dos outros males que são possíveis e esperados aos nossos olhos. O Estado tem de aprender a preservar seus cidadãos, antes de socorrê-los nas grandes necessidades, como vemos nos desastres naturais que nos têm vitimados nos dias atuais. A casa que é construída sobre a rocha é bem mais forte do que a que é construída na areia frouxa do dessaber político dos tantos que ainda permanecem cegos ou pouco enxergam.