A Casa Colorida
A Casa Colorida
VII Desafio Recantista
- Por favor, necessito de uma ficha de inscrição para...hmmm...que melodia é essa?
- Para?
- Er....o VII Desafio Recantista . Isso. Sobre a Casa Colorida.
- Somente com as Irmãs Recantistas.
- Pode chamá-las, por obséquio?
- Estão nos cânticos. Creio que só amanhã.
- Alguém pode me ajudar? Gostaria muito de participar desse desafio. É por causa do número, sabe, desde criança esse número me fascina. Quando eu tinha 10 anos...
- Aguarde um segundo.
Um segundo depois.
- Venha comigo, mas não faça barulho. Esse é um horário sagrado para as Irmãs Recantistas. Primeiro elas jejuam, depois executam os cânticos, por fim oram. Está quase acabando o cântico das 19 horas. É possível vê-las passar pelo pátio. Tão logo você consiga vislumbrar uma delas, corra para solicitar o formulário. Pegue e depois desapareça daqui.
Sujeito esquisito. Tinha uma corcunda e um ar sombrio.
Aguardei pacientemente do lado fora, ouvindo embevecido suas vozes maviosas que em latim melodiavam: “você era a mais bonita, das cabrochas desta ala, você era a favorita onde eu era mestre sala...”
Outro sujeito corcunda e com uma mancha no rosto veio ter comigo.
- O que você quer?
- Estou esperando as Irmãs saírem. É...er...por causa do concurso.
- Que concurso?
- O VII Concurso da Casa Colorida.
- Não é um concurso, é um desafio. Você trouxe comprovante de residência?
“Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua, suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua”. Isso tá uma beleza em latim. Afinação exemplar das Irmãs Recantistas. “Hoje o samba saiu...”
- Senhor!
“Quem te viu, quem te vê...”
- Oh sim, perdão. Comprovante de residência. Pôxa, não trouxe, olha se você me deixar esperar aqui mais um segundo eu...só preciso do formulário.
“Quem não a conhece não pode mais ver pra crer...”
Um segundo depois ele voltou com o formulário e me indicou a porta de saída.
Falei para ele que ia me empenhar nesse texto, afinal tem o número sete. Será um texto pungente como uma casa colorida, dessas que ficam na memória para o resto da vida. Mesmo que mudem de cor com os truques da existência, ainda assim permanecem, é possível visualizá-las com a cor desejada e manejar os ambientes feito as estrofes das canções imortais. Talvez sejam imortais porque nos eternizam. É o que me ocorre agora, pensando na casa e suas cores. Fixa na memória ou na imaginação. Faltando uma estrofe ou uma varanda. Belo exercício. Não deixa de ser uma maneira de eternizar a casa. Ou a canção. Mas somente quando cantamos, é lógico.
“Quem jamais a esquece não pode reconhecer...”