Isolamento cultural: arte esquecida!

A cultura é o conjunto de manifestações sociais, é a identidade de um povo, sua língua, seu sotaque, suas gírias, as músicas, crenças, política, economia, comportamentos e até idéias, ou seja, todo o conjunto de expressões e relacionamentos de determinado povo ou civilização.

Mas o isolamento cultural que abordo diz respeito à produção cultural através de manifestações artísticas como grupos musicais, teatrais, literários etc. Assim como a grande maioria das cidades do interior, Areado, cidade onde moro, é muito pobre nesse aspecto cultural, não temos oportunidades para degustar produções artísticas que vão além de filmes hollywoodianos, seriados e novelas. Não se pode ir a uma peça de teatro ou assistir um dos muitos curtas-metragens nacionais premiados mundo afora. O cinema mais próximo fica em alfenas e os filmes em cartaz são sempre o “mais do mesmo” de Hollywood. É quase impossível escutar outro tipo de musica que não seja a ditada pelas rádios e pela televisão.

Vivemos tempos em que expressão artística é um produto comercializado em larga escala, o conteúdo é regido em detrimento de fins econômicos, com isso a arte perde sua identidade regional, crítica e inovadora para assumir um caráter massificado e superficial. Somos, então, lançados em uma espécie de vazio cultural onde consumimos apenas o que é mais fácil e lucrativo de se produzir e vender.

Uma novela, por exemplo, ela agrada desde uma garotinha em seu mundinho cor de rosa a barbados cansados depois de um dia de trabalho, agrada jovens universitários a jovens marginalizados. Isso é possível, pois as situações são sempre superficiais: simulacros que envolvem redes de intrigas, conflitos amorosos, amores proibidos, um núcleo de personagens rico e outro pobre, tem bandidos e mocinhos. Uma receita que deu certo e com a qual o público se acostumou. De norte a sul, de leste a oeste de todo território nacional a grande maioria vê absolutamente a mesma coisa durante anos. A estrutura nunca muda, muda-se apenas a pele, a roupagem enquanto o conteúdo é sempre o mesmo.

Outros exemplos de massificação cultural são as maiorias das músicas que estão nas paradas de sucesso. Veiculadas pelas grandes rádios e pelos programas de televisão, ecoam pela noite, pelos bares e festas da região e de todo o país. Antes tínhamos o nosso sertanejo, aquele raiz, onde as violas choravam e as letras estavam carregadas de significado. Hoje o que mais se ouve por aí são arranjos pobres e letras fúteis, não existe espaço para o diferente, para o regional ou para o novo, pois o gosto popular está condicionado para favorecer os interesses mercadológicos. Não só a minha geração, mas muitas gerações de hoje não possuem uma identidade musical, o gosto está retido a sucessos massificados e momentâneos; estilos corrompidos pela indústria da música.

Para desenvolver a cultura e trazer a luz da arte para nossa vida deve haver em primeiro lugar a vontade e atitude do povo e estas qualidades se intensificam quando o povo é consciente e recebe incentivo.

Alguns amigos meus comentam suas idéias para intervenções culturais e artísticas: Um pretende reunir escritores areadenses e publicar um livro, outro pensa em organizar um evento com bandas da região envolvendo diferentes cenários da cidade. O mais recente veio me falar sobre um projeto criado no Rio de Janeiro chamado “Lona cultural” abarcando teatro, música, filmes, tudo em uma noite debaixo de uma lona, uma espécie de baile cultural onde a diversão está atrelada a arte. Este último, perguntou-me quem era o secretário da cultura de Areado, então fui pesquisar na internet e cheguei ao http://www.areado.mg.gov.br/geral_conselhos.php espaço virtual do Secretaria da Educação e Cultura no site da prefeitura. Logo vi que o Conselho Municipal da Cultura de Areado está “em construção”. Fiquei pensando sobre o significado de “em construção”, será que significa realmente que algo está sendo construído? Ou será apenas uma expressão adequada para dizer que o Conselho Municipal da Cultura de Areado simplesmente não existe?

Contudo vejo isso como secundário: A busca para desenvolver a cultura através da arte parte da atuação de cada um e gera, além de diversão, consciência... A arte é luz para o senso crítico! E com essa luz o povo tem em mãos o mais poderoso meio para exigir dos governantes tudo aquilo que existe em todos os planos de governo, por exemplo: Apoio para arte e cultura. E não falo de mega-shows caríssimos, falo de apoio e espaço para o novo e regional.

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Crônica publicada no impresso Folha Areadense.