Cartas de Salamanca - Primavera em Paris
À medida que o dia clareava, um misto de curiosidade e ansiedade ia aumentando, pois, pela janela do trem, já vislumbrávamos um pouco da silhueta da famosa capital francesa. Chegamos ao hotel somente para deixar nossas bagagens, e logo começamos o roteiro que, sabíamos, teria que ser um tanto apressado para podermos conhecer um pouco da Cidade Luz. E, para percorrer o “básico” de Paris, todos advertem: é preciso que se caminhe muito.
A primeira visita foi à Catedral de Notre-Dame. A célebre igreja é linda, com suas famosas e lendárias torres. No seu interior, dentre tantas coisas, merecem destaque os vitrais e a estátua de Joana D'Arc. Em seguida, caminhamos um pouco pela cidade e pegamos o metrô para visitarmos o Arco do Triunfo. Após subir os 284 degraus, chegamos a uma espécie de terraço no alto do Arco, de onde a vista é encantadora, dali é possível se contemplar as belas e simétricas avenidas parisienses.
Depois, a singular caminhada pela avenida Champs-Élysées, admirando seus charmosos restaurantes e as suntuosas lojas de roupas, perfumes e cosméticos de marcas famosas. Com o intuito de registrarmos aquele momento ímpar, paramos para tomar um memorável café. Em seguida, pasmem, estávamos em frente a um prédio onde morou Santos Dumont, com direito a registro em uma placa explicativa na fachada do prédio, para orgulho dos brasileiros.
Outra coisa: o Museu do Louvre é realmente uma atração imperdível. Um dia inteiro é pouco para percorrê-lo, pois é enorme e tem coleções variadas, para todos os gostos: antiguidades da Grécia, do Egito, da Mesopotâmia; pinturas francesas e italianas, esculturas renascentistas... O quadro da Mona Lisa é certamente o que atrai o maior número visitantes.
E a Torre Eiffel? Fizemos examente como aconselham: subimos quase ao final da tarde para termos oportunidade de apreciar o pôr-do-sol lá do alto. E, logicamente, pudemos ter a visão da cidade a partir das perspectivas diurna e noturna. De cada visita, saíamos com a impressão de que não deveria ter na cidade outra vista que pudesse superar aquela que acabavámos de contemplar.
Outro alumbramento: o passeio de barco pelo rio Sena, que é impagável. Navegar pelo Sena é poder ver Paris por outro ângulo. Ou seja, a partir do leito do rio, os monumentos históricos ganham outra dimensão e, ao mesmo tempo, nossas mentes e retinas vão tentando entender como, dialeticamente, o Sena viu a metrópole se erguer às suas margens. Outro aspecto que nos chamou a atenção durante o referido passeio: o quanto o rio Sena é limpo. Ao longo de todo o percurso, não sentimos nenhum mau cheiro e tampouco percebemos qualquer sinal de poluição.
Também estivemos no Panthéon, que já foi uma igreja. Atualmente, em sua cripta estão depositados os restos mortais de personalidades célebres como Victor Hugo, Voltaire e Rousseau.
Apesar do curto roteiro em relação ao que pode ser visto, seria uma tarefa hercúlea fazer a descrição de todos os monumentos que visitamos. Paris, como já foi dito por tantos, tem que ser pecorrida, apreciada e, acima de tudo, compreendida em sua riquíssima dimensão histórica.
Durante nossa estada, vale registrar, nossas incursões eram diurnas, pois como estávamos com crianças, era prudente que voltássemos para o hotel antes do anoitecer. Então, em verdade, não vimos a vida noturna, o que seria uma página especial a ser registrada. Em compensação, o sol de primavera foi extremamente generoso conosco, banhando a cidade nesses quatro dias de uma forma a refletir ainda mais sua beleza.
Bem, de nossa estada, dois episódios merecem registro especial.
O primeiro se deu por ocasião da visita ao Museu d'Orsay, mais especificamente quando apreciávamos a coleção do pintor francês Henri Fantin-Latour. Naquele momento, foi-nos inevitável a lembrança do companheiro Clauder Arcanjo que, em nossa distante Mossoró, com seu espírito gregário, sempre promove reuniões de amigos em torno de conversas literárias. Tal lembrança ocorreu devido ao fato de o referido pintor possuir uma interessante série de três quadros, intitulados Un Rincón de mesa; El taller de Batignolles e Alrededor del piano, que são retratos coletivos, respectivamente, de poetas, pintores e músicos.
E o segundo episódio, no momento em que visitávamos a Basílica de Sacré-Coeur. Alí, enquanto Vilani, Alice, Irene, Bia e Theo assistiam a uma apresentação de artistas populares nas movimentadas escadarias da igreja, Jessé e eu comentávamos o quão grande era o fluxo de turistas de todas partes do mundo. Falavámos justamente dessa enorme movimentação, quando, de repente, escutamos uma voz familiar chamando: “— David Leite, David Leite!...”. Pois bem: era o simpático casal Ricardo e Jânia Benevides, com o jovem filho Tulinho, os quais, em rara coincidência, tinham nos avistado à distância e se aproximavam para o abraço festivo. Encontrar esses conterrâneos naquele exato momento, paradoxalmente, demonstrava que vivemos em um “pequeno mundo”.
Um pequeno e, ao mesmo tempo, vasto mundo que nos trouxe grandes alegrias: todas elas com o sabor inesquecível da primavera de Paris, essa cidade de beleza e charme especiais que tanto nos encantou.