FÍCUS

Um dia depois do Dia da Árvore, chegou a primavera carregada por ventos bravios, o que trouxe, no primeiro momento, o conforto de temperaturas amenas. Mas o calor estava por demais atroz e precisou de muita força primaveril para levá-lo a se instalar em outras paragens levando consigo a Fícus.

Estava maravilhosa, com sua copa esplendorosa, mas sucumbiu à força dos ventos, um gigante que me ofertou por muitos anos uma sombra refrescante, ruiu com seu xale verde sob a força dos ventos.

Momentos antes dessa fatalidade ainda me confortei em sua sombra, enquanto a observava atenciosamente. Mas, leigo, nada de errado encontrei. Apenas a bem aventurança do pio de uma coruja que ali se abrigava.

Mas o vento, ao cair da tarde, se tornou insuportável. E o que era conforto passou a ser incômodo e praticamente no mesmo instante que entrei em casa, uma tempestade se abateu com toda sua força sobre a cidade nos privando até mesmo de energia elétrica dando vez à escuridão que foi abrandada por velas e quando cessou, a curiosidade de ver se realmente o tempo já tinha esmaecido, fez com que minha mulher saísse à rua, o que a fez gritar... – Ela caiu! – O que? Todos perguntavam. – A árvore caiu! Venham ver!

Ela estava lá. O xale verde que outrora lhe servira como copa, era agora seu manto fúnebre, triste e sem vida, deixando à mostra, para meu espanto, suas entranhas apodrecidas. Bem fiz eu de ter me abrigado em casa. O que outrora me parecia esplendorosamente saudável vergou ao chão, doente, e para a minha tristeza levou consigo o prazer de sua presença. Enganei-me com sua aparente vitalidade. Agora será cortada em pedaços transportáveis para um lugar devido. Uma memória honrada e por incômodo, por agora, só o som da moto-serra a cortar minha terna e eterna amiga Fícus. E no futuro, a ausência de sua presença com todo o seu esplendoroso frescor.