Itabaiana e a crise do século XVIII – O que tem o Papa a ver com isso?
“Assim pois, meus senhores, o catolicismo dos últimos três séculos, pelo seu princípio, pela sua disciplina, pela sua política, tem sido no mundo o maior inimigo das nações, e verdadeiramente o túmulo das nacionalidades”. (Antero de Quental)
Para os itabaianenses que não sabem, pouco instruídos que foram sobre sua própria história, esta região era uma das mais prósperas de toda a Paraíba, com riquezas potenciais e estrutura administrativa avançadas para a época. Um dos fatores do atraso da região, cuja decadência teve início ainda no século dezoito, foi a Inquisição da Igreja Católica, conforme relata o historiador paraibano José Octávio de Arruda Mello no seu livro “História da Paraíba”.
De fato, o Tribunal do Santo Ofício, a chamada Inquisição, passou a perseguir os descendentes dos antigos cristãos-novos na Paraíba, que foi a Província mais marcada por este tribunal da Igreja em todo o Brasil, depois do Rio de Janeiro. Aqui, a escalada do terror da Inquisição passou do campo religioso para a área econômica e social, com a Igreja perseguindo e marginalizando pessoas que de alguma forma tinham ligações com judeus, protestantes e árabes. E essas pessoas, geralmente, eram gente de posses, fazendeiros, grandes capitalistas que tinham seus bens confiscados e transferidos para os cofres portugueses. Quem tinha comércio, escondia o dinheiro, não emprestava mais, com medo de ser acusado de agiota e parar nas masmorras da Igreja. Como os inquéritos eram secretos, as pessoas podiam delatar quem quisessem, e isso facilitava, por exemplo, quem devia dinheiro e não queria pagar. Era só acusar o credor de “práticas judaizantes” para se ver livre do débito. Assim, o comércio não prosperava, a agricultura começou a declinar e todo o sistema econômico de então foi se desmoronando, principalmente no Vale do Paraíba, a região mais rica da então Província, cuja “jóia da coroa” era Itabaiana.
Achando pouco, a Igreja forçou a que lavradores de cana, negociantes, fazendeiros e quem mais possuísse bens, doassem grandes quantias para o dote do casamento dos filhos de Dom João V com a família real da Espanha, já que Portugal, por aquela época, estava falido e mal pago.
Mais de quarenta pessoas foram condenadas à prisão perpétua, outras foram levadas para Portugal e queimadas vivas, feito o Padre Gabriel Malagrida, que foi um religioso dedicado às causas sociais e práticas caridosas, tendo fundado orfanatos, asilos de velhos e escolas. O padre Malagrida foi acusado de conspirar contra o Rei de Portugal, juntamente com os demais jesuítas, que foram expulsos em 1759. Com isso, feneceram missões desses religiosos em Pilar e outras localidades, que eram a única opção de educação para o povo.
Portanto, a História nos diz que a decadência econômico-social de Itabaiana e de toda região do vale do Paraíba teve início no século XVIII. Se não fosse a ação devastadora da Inquisição, o vale do Paraíba teria melhor sorte, mesmo porque, além das potencialidades econômicas e recursos naturais, Itabaiana era o portão de entrada das idéias liberalizantes e modernas vindas do vizinho Estado de Pernambuco. A influência pernambucana contagiou nossos conterrâneos em muitas guerras pela libertação do Brasil. Foi em Itabaiana, às margens do Riacho das Pedras, onde ocorreu a batalha envolvendo três mil e quinhentos combatentes, tendo de um lado os legalistas, e do outro os confederados, liderados por Félix Antonio, que acabou assassinado em uma fazenda de Mogeiro.
(Do livro “História de Itabaiana em versos e algumas crônicas reais”)