PERFIS MARIENSES (5) – Mércia Chaves
No dia 16 de abril faz aniversário a minha comadre Mércia da família Chaves, professora de educação artística, inglês e História nas cidades de Mari, Araçagi e Sapé. Estou pra ver tão obstinada pessoa na perseguição dos seus objetivos de vida, por sinal os mais nobres.
Taumatá, sítio em que nasceu e onde até hoje vive, é seu santuário, seu recanto que a forjou na capacidade de amar a natureza e no infinito potencial de tolerância e fraternidade. É uma pessoa do bem, da qual traço um breve perfil biográfico.
Mércia fez aquele percurso espinhoso de uma estudante que reside na zona rural e estuda na “rua”. Com as dificuldades próprias dessa condição, ela concluiu licenciatura em estudos sociais pela Universidade Estadual da Paraíba e História pela UFPB, com pós-graduação nas Faculdades Integradas de Patos. Professora na Escola Estadual Monsenhor Odilon Alves Pedrosa em Sapé, e Escola Municipal Epitácio Dantas em Mari, ainda encontra tempo para lecionar em escolas da zona rural de Araçagi.
Quando fundei a Rádio Comunitária Araçá, em Mari, Mércia Chaves engajou-se nesse projeto de comunicação popular, produzindo e apresentando o programa “Feminino Plural”, tratando de questões relacionadas, principalmente, com o gênero feminino, sendo considerado referência na radiodifusão comunitária da região. O programa discutia temas como mulher e saúde preventiva, meio ambiente, direitos sociais, educação e comunicação popular, entre outros temas urgentes. Mércia contribuiu muito com o trabalho de apoio às rádios comunitárias da região, na sensibilização da população para a construção dos projetos comunicacionais, partindo de uma reflexão coletiva. Como a rádio comunitária é um espaço essencialmente amador, onde as pessoas trabalham a partir da experimentação, já que não existe uma capacitação técnica, ela buscou qualificar as mulheres envolvidas, visando jogar um maior número de vozes na interlocução social, daí surgindo novos líderes, novos comunicadores que jamais encontrariam espaços na grande mídia, para dialogar com seus pares e movimentar o subterrâneo da produção cultural e da organização social da periferia, onde a rádio é sintonizada, produzindo conteúdos de qualidade e dando respostas às necessidades da população.
Nessa luta, Mércia Chaves ingressou na Rede de Mulheres Comunicadoras da Paraíba, participando de oficinas, congressos e laboratórios em João Pessoa, Macapá, Brasília e outros centros.
Como professora de arte, ela fundou conosco o Coletivo Dramático de Mari, participando de um curso de formação de ator no Teatro Santa Roza, em João Pessoa, terminando com a montagem do texto clássico de João Cabral de Melo Neto, “Morte e Vida Severina”. Como atriz, atuou nos espetáculos “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, “Cantiga de Ninar na Rua”, “Hoje a Banda não Sai” e “A moral ao alcance de todos”, que participou do XI Festival de Teatro Comunitário do Sesc, em 1997.
A militante Mércia Chaves foi candidata a vereadora pelo Partido do Socialismo e Liberdade, mas a sua seara é mesmo a educação. Está em vias de se aposentar com um salário irrisório, embranqueceu os cabelos no ensino e, no fim da carreira, receberá um salário ridículo por obra e graça de uma política educacional vergonhosa. Professor hoje no Brasil nem é profissão, é considerado um bico, um emprego sem futuro. Mas quem escolheu a carreira de professor por vocação, a exemplo de Mércia, não arrefece o ânimo com essas dificuldades. Ela cumpriu com seu dever, e não se frustra com a falta de recompensa. A grande recompensa da mestra é a realização como educadora.
Finalmente, diria de Mércia Chaves que se converteu ao espiritismo num momento crucial de sua vida, quando descobriu que sofria de uma séria doença degenerativa. Diante dos pesados sofrimentos físicos, ela buscou na doutrina codificada por Allan Kardec a explicação de sua cruz pessoal. Hoje ela aceita sua carga de dor com resignação, o que a faz mais solidária com o próximo “neste plano de vida material”. Uma frase que ela gosta muito: “a caridade é o amor em movimento”.
Por tudo que representa de positivo para o movimento de radiodifusão comunitária na Paraíba, pelo legado que deixa na educação, pela atuação competente na difusão da arte e cultura nas cidades de Mari e Sapé, Mércia Chaves será lembrada permanentemente pelos companheiros, alunos e inúmeros amigos. Neste plano de vida material, como ela acredita, cumpre sua missão com dignidade. Parabéns, Mércia, pelo aniversário!