PERFIS MARIENSES (6) – Assis Firmino
Em Mari se costuma dizer que Assis Firmino é como bolacha: em todo canto se acha. Esse camarada tem como regra de vida se meter em tudo que diga respeito à sua comunidade, tudo mesmo! Na religião, no esporte, na política, na cultura, no folclore. Enfim, um cidadão participante. Dizem as más línguas que ele é mesmo um fofoqueiro de primeira, mas fofocar é saudável. Papear sobre a vida alheia faz bem à saúde, é relaxante, melhora o humor e a pele.
Assis Firmino é um caso típico de alguém que veio de baixo e conseguiu o famoso lugar ao sol. Para ficar nos adágios populares, “quem não tem vergonha, todo o mundo é seu”. Assis era gari da Prefeitura, semi-analfabeto, mas inteligente e desprovido de qualquer tipo de timidez. Como um sujeito insinuante e bom de lábia, foi promovido a chefe dos garis, e depois conseguiu ficar em disponibilidade, para assuntos extraordinários ligados à comunicação, já que nosso herói tomou gosto pela locução ao usar pela primeira vez o microfone do alto-falante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Gostou tanto da função que nunca mais parou. Dizem que ele sofre de “microfonite aguda”, um tipo de doença que faz com que o paciente não possa ver um microfone: quer logo falar no dito cujo.
Assis é um crioulo baixinho e gordinho, gente fina, pachorrento e bon vivant. “Só trabalha quem não sabe fazer outra coisa”, diz o ditado. Pois “quem procura sempre acha, senão um prego uma tacha”, Firmino foi galgando as posições. Secretário do sindicato rural, diretor de associação de moradores, assessor de comunicação da Prefeitura, animador cultural e mais um bocado de coisas. “Quem não aparece, esquece; mas quem muito aparece, tanto lembra que aborrece”. Assim a figura de Assis Firmino criou as facções contrárias e favoráveis. Uns o consideram um chato e intrometido, outros o acham engraçado, folclórico, cordial, participante, lutador pela cultura popular, pelo futebol e amante de sua terra e sua gente. Já foi palhaço de pastoril, diretor de time de futebol, empresário de cantador de viola e apresentador de programa de rádio. Nisso passou de proletário para arremediado, porque “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não conhece da arte”. Mas “quem vai à guerra dá e leva”, portanto nosso Assis Firmino não é muito querido nas hostes da oposição, já que ele é adepto do ditado que diz: “mais vale ser rabo de tubarão do que cabeça de sardinha”. Resumindo: ele sempre está ao lado de quem está no poder, porque “não se malha em ferro frio” e “onde o galo canta, lá mesmo almoça e janta”.
O comunicador Assis Firmino às vezes confirma e às vezes desmente os provérbios: “quem muito fala, pouco acerta”, ou “quem diz as verdades, perde as amizades”, ainda “a palavra é de prata e o silêncio é de ouro”. Vai falando porque “cada qual é para o que nasce” e cada um ao seu modo. Desconfie do homem que não fala e do cachorro que não late, e difícil é agradar a gregos e troianos. E ele tem alguns inimigos históricos! Um rapaz que se acha muito superior, dono de uma rádio “comunitária”, tem mesmo ódio de Assis Firmino. Já protagonizaram brigas homéricas nos tribunais. Os dois disputam para saber quem é o mais sabido, já que “passarinho que anda com morcego acaba dormindo de cabeça pra baixo”. Mas quem tem telhado de vidro não joga pedra no vizinho, e “focinho de porco não é tomada”, Firmino segue sua vida pelo mundo da comunicação e afins. Brigar com Assis Firmino é puro desperdício, que ele não leva nada a sério, não guarda mágoas e é capaz de confraternizar com seu pior inimigo.
Nesse embalo, vai levando “na valsa” seu estilo de vida. Admirador da poesia popular, tem no mestre Manoel Xudu seu grande ídolo. Em homenagem ao vate, fundou a Associação Cultural Poeta Manoel Xudu. Em crônica que escrevi em 1993, afirmei que certo dia, na fazenda Taumatá, Antonio Julião encontrou-se com Zé Xavier e pediu um mote:
"Viola, se tu falasses,
Dirias quem foi Xudu...”
Dizem que Zé Xavier fez versos tão bonitos que Assis Firmino pegou a chorar no ombro de Julião...