PALÁCIO DA PENA - Continuação
Procurávamos fotografar tudo que fosse possível no interior do palácio, até mesmo onde era proibido, como de fato aconteceu ao entrarmos na capela real num instante do recrudescimento da chuva. Algumas pessoas já estavam lá conversando em voz baixa e admirando o altar cheio de esplendor, os bancos de séculos atrás, as peças proporcionando uma decoração medieval e a aura de intenso mistério encobrindo o ambiente.
Na mais pura inocência, confesso, aproximei-me do ponto limítrofe do altar fechado por cordas grossas e pedi para Ana tirar a foto. Vupt!, o flash iluminou momentâneamente o local e, repentino como uma cobra sinuosa, surgiu alguém para sussurrar-me ao ouvido que não era permitido fotos naquele lugar. Pedimos as devidas desculpas e saímos de fininho, mas o registro permaneceu na câmera, algo que somente eu tinha, uau!.
É chato e monótono persistir dizendo sobre a chuva, mas infelizmente não há como não deixar isso bem explícito porque ela não dava qualquer trégua. Foi ao sairmos correndo sob o intermitente chuviscar caindo do céu que tornamos a avistar a fila diante da portinhola estreita sobre a qual já escrevi alguns capítulos atrás. Bom, naquele momento ficamos curiosos, não havia como fugir disso, então resolvemos agora enfrentá-la para descobrir de uma vez por todas aonde ia aquele povo todo, mesmo sob a garoa molhadeira. Devido a lentidão para chegar até a famigerada e apertada porta de acesso ao lugar desconhecido, levamos cerca de quinze minutos até chegar lá, sem dúvida nenhuma já dominados pela ansiedade. Quando, finalmente, alcançamos a portinhola, três homens investigavam quem portasse máquina fotográfica e informavam, carrancudos, ser terminantemente proibido fotografar ou tocar qualquer objeto lá dentro. E veio a revelação quando pusemos os pés no interior daquele recinto misterioso: acabávamos de ser introduzidos na mais profunda intimidade do palácio, o aconchego da família real.
Foi realmente um choque positivo de grandes proporções para mim, uma verdadeira descoberta diria melhor, estar naquele recinto de maneira tão inesperada. Sim, porque a partir daquele ponto especial estávamos dentro do Palácio da Pena e diante de sua suntuosidade espetacular. Pisquei os olhos como se não acreditasse naquilo e olhei em frente, despreparado emocionalmente para ver o que estava por vir. Uma fila de turistas seguia vagarosa pelo caminho traçado por cordames que nos separavam de tudo manifestamente intocável para os visitantes. Ali havia, sem dúvida, muito para admirar e maravilhar-se. E assim aconteceu comigo. Vi tanto luxo nababesco e ostentação impressionante, tudo obviamente digno de reis, que deitava os olhos com a maior parcimônia mesmo sob os sussurrantes protestos dos outros visitantes atrás da fila. Passamos por todos os cômodos do palácio e vimos em todos eles cada detalhe dos requintes e das riquezas dos muitos reis, rainhas e príncipes que ali habitaram. Tanto sua majestade o rei quanto a rainha tinham à disposição vários quartos para dormir, para vestir, tomar banho, secretariar, receber convidados, pentear-se, entre inúmeros outros, além daqueles destinados às damas e valetes auxiliares diretos da realeza que ali moravam permanentemente. Que palácio belíssimo, deslumbrante, encantador! Os tetos de cada quarto apresentavam seus próprios detalhes esculpidos, decoração e toques únicos, nenhum igual ao outro, todos eles com entalhes em ouro, brocados entrelaçados e traços desenhados exclusivamente para os ambientes. Algo de impressionar. Camas, tronos, penteadeiras, pinicos(sim, pasmem, havia um pinico para o rei e um para a rainha ao lado do leito de ambos - tente imaginar os dois sentados nesses apetrechos e fazendo suas necessidades fisiológicas como qualquer mortal comum, a coroa e as vestes reais sobre a cama, as pantufas nos pés e haja fazer força, rsrsrs), banheiras, portajóias, enfeites, guardaroupas, trajes, cetros, estátuas, móveis, quadros, fotos, desenhos e vários outros itens da época monárquica desfilaram ante nossos olhos nos lugares e posições que foram deixados há centenas de anos. É impossível descrever tudo que presenciei, não foi possível fazer anotações e nem agora é fácil lembrar das miudezas, minúcias, das infinidades de pequenas e grandes coisas expostas aos olhos dos visitantes. À saída, extasiado por ter entrado pela primeira vez em um palácio, perguntei a um dos fiscais o motivo de não permitirem fotos na parte interna do Palácio da Pena e ele respondeu que era em razão de direitos autorais. Ah, bom!
Mas não tínhamos terminado de ver tudo, ainda havia algo mais para ser visto já fora das intimidades reais, uma das dependências de muita importância em qualquer residência humana: a cozinha. Estava tudo praticamente lá: panelas, formas de bolo, talheres, pratos, fotos, cardápio, animais empalhados como porcos, galinhas, patos e diversos próprios das caçadas protagonizadas pelo rei e seus convivas, alho, cebola e um sem número de apetrechos próprios da culinária real. Tudo para ser apenas olhado e memorizado, sem fotos e sem anotações.
Ao sairmos do palácio, ainda sob os pingos insistentes, não sem antes, enfim, desmanchar-nos em fotos nas torres e quaisquer outros lugares por onde passássemos no recinto, tínhamos ainda uma grande batalha para enfrentar e muita coisa para fazer até voltar novamente para Lisboa Vocês nem imaginam.