SAUDADE
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé doem.
Dói cólica, dedinho do pé virado prá trás. Dói muito pedra no rim, mas o que mais dói é a saudade...
Saudade dos pais que moram longe. Saudade das reuniões gostosas da família. Saudade das coisas da infância. Saudade do irmão que morreu. Saudade da gente mesmo, quando a gente se perde. Doem essas saudades todas, mas a saudade mais dolorida é a saudade de não saber sobre quem se ama... Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença e até mesmo da ausência consentida.
Pode-se ficar na sala e o outro no quarto, sem se verem, mas sabem-se lá. Pode-se ir ao dentista e o outro para a faculdade, mas sabem-se onde. Pode-se ficar hoje sem se ver, mas sabem-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba - ou torna-se displicente -
ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter, porque saudade é basicamente não saber...
Não saber se o outro tem comido direito, por causa daquela mania
de estar sempre correndo; se continua perdendo os óculos, a carteira, o celular; se continua gostando de computador e de comer doces; se continua andando o dia inteiro e sorrindo com aqueles olhinhos azuis;
se continua gostando de dançar... Não saber do acordar, do dia-a-dia, do dormir e do sonhar!
A gente toca a vida, procura entender e conciliar muitas coisas, espera um pouco mais, acredita que tudo se ajeita, mas a saudade é uma dor que incomoda. Saudade é mesmo não saber...
Não saber o que fazer com os dias que ficam mais compridos e como encontrar tarefas que ocupem o pensamento. Não saber como frear as lágrimas ouvindo música e como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Não saber como voltar a ocupar o banco ao lado do motorista, a ocupar a cadeira de companheiro, conselheiro e confidente... Não saber como voltar a emoção, o interesse, a paixão, o tesão!... Porque quando o amor de um acaba, ou torna-se displicente, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter... E saudade é a dor que mais dói... Saudade é mesmo não saber...
(onde e como está você???)