Diálogo sobre a Objetividade

- Teu texto é pouco objetivo.

- Como assim, “pouco objetivo”?

- Pouco objetivo, ora. Não possui objetividade.

- Isso eu entendi. O que eu não entendi é por que ele é pouco objetivo.

- Porque ele dá muitas voltas, sai do assunto toda hora, é metido a engraçadinho...

- Mas é uma crônica!

- Não interessa.

- [suspiro profundo]

- Não te ensinaram a ir direto ao ponto na faculdade?

- [em voz baixa] Pelo menos eu terminei a faculdade...

- O quê?!

- Nada. Olha só, as crônicas geralmente são assim, abordam o assunto em pauta de outra maneira, geralmente com toques de humor, mas não obrigatoriamente.

- Eu sei o que é crônica, muito obrigado.

- Tem certeza?

- Além de ter pouca objetividade, teu texto não tem graça.

- Mas eu sou jornalista, não humorista!

- Pois é, mas não foi tu mesmo que me disse que crônica tem toques de humor?

- É, mas toque de humor é uma coisa, palhaçada é outra!

- Mas não tem nem toque, nem peteleco, nem um humorzinho de raspão nesse texto.

- [suspiro profundo]

- E outra coisa. Muita palavra repetida.

- Muita palav... Criatura, como assim, “muita palavra repetida”?

- Tu tá surdo hoje? Muita palavra repetida, significa que tu usou muitas vezes a mesma palavra.

- Já te ocorreu que isso pode ser intencional?

- E pra que tu iria repetir uma palavra de propósito?

- [suspiro] Pra reforçar uma idéia, pra fortalecer um argumento, pra manter o assunto no foco que eu desejo mostrar ao leitor.

- Faz outro.

- Mas a minha coluna sai amanhã! O jornal vai pra gráfica daqui a duas horas!

- Pois é. Faz outro.

- Como é que eu vou escrever um texto de meia página em menos de duas horas?

- Te vira. Ou tu escreve isso logo, ou eu coloco um texto do Luis Fernando.

- Peraí, não precisa ameaçar. Tô indo.