CINZAS
"Eu vi a cara da morte e ela tava viva"
(Cazuza)
Novamente está chegando a época de festas juninas. Lembro-me do ocorrido mais extraordinário pelo qual já passei até então: minhas capotadas!
Minha vida começa uma escaldante transa com a morte!
Numa bela noite de lua cheia, vou à busca de uma amada. Festa junina: bolo, pamonha, tapioca, canjica, milho verde e maçã do amor. Me fartei de tanta comidinha gostosa. Comigo, mais três amigos: o Bicudo, o Dudu, e o Marcley Aponga. Dancei forró até São João conjuntamente com São Pedro e Santo Antônio se irritarem com minha cara e fazer com que a festa parasse.
Constatei. Mulher e forró: tome cuidado cabra da peste!
Na volta pra casa, eu e meus três amigos dentro do carro... Os três já dormindo, ponho então um pouco de bossa nova, pois o forró já tinha escutado por toda a noite, depois passei para um sambinha dos bons, salsa, rock, blues, jazz... me deleitei tanto nas músicas que quando menos percebi já estava dormindo também. Mas eu não podia, eu dirigia: já acordei capotando, os amigos esperneando, o carro rodopiando e uma forte pancada na cabeça. Constatei...
... A vida transa constantemente com a morte!
Ter minha vida fazendo sexo com a morte sem amor algum, foi o orgasmo mais fecundo que já tive: o gozo de uma ressurreição!
Minha morte gozou e eu renasci!
Hoje estou aqui pra poder contar estórias. Mas será por um breve momento, pois já, já, outra capotada virá e terei que ir à cova. Se não for num carro, as capotadas serão na forma de um câncer, uma bala perdida, morte natural, afogamento, queimaduras, homicídio, suicídio...
O certo é que, o teu caixão com certeza um dia será carregado às honrarias fúnebres do teu velório. E nada há de se espantar com isso, apesar de inevitável o sofrimento com o escorrer das lágrimas... portanto, pô, dê um chute na bunda da preguiça e comece a gozar na cara da vida estirando o dedo pra cara da morte!
Viver, não é nada mais nada menos que abraçar os sonhos e beijar os lábios de uma realidade passageira!