Imagem: Moderna Biblioteca em Chambery, França
Música: Die - Mozart


Livro: Necessidade ou Luxo?

 
No inicio de janeiro do corrente ano, visitávamos meus pais no interior de São Paulo. Nessa ocasião, o meu filho manifestou o desejo de comprar o livro Crepúsculo de Stephenie Meyer. Como meus pais moram em uma pequenina cidade de pouco mais de 4 mil habitantes e não tem livraria, fomos até a uma cidade de 70 mil habitantes, a maior da redondeza.

Quando chegamos à cidade perguntamos quais os endereços das livrarias. Para nossa surpresa, fomos informados que havia apenas uma livraria em uma rua do centro da cidade

No ímpeto de sua juventude o meu filho esbravejou: “aqui não é lugar sério, existe somente uma livraria’. Quando chegamos ao endereço indicado encontramos uma pequena livraria, aliás, um misto de livraria, papelaria e banca de jornal, pois acredito que o estabelecimento não sobreviveria se vendesse somente livros.

Uma senhorita alegre e sorridente cordialmente nos atendeu e perguntou o que procurávamos. Meu filho respondeu que procurava pelo livro Crepúsculo, já lançado há vários dias no Brasil. A moça indagou: “somente lhe serve esse, o Crepúsculo deverá chegar dentro de uma semana”.

Essa realidade não é comum apenas em cidades pequenas do interior do Brasil, nas grandes cidades e nas capitais as livrarias estão restritas as áreas centrais e, principalmente, nos grandes shoppings. Espaços luxuosos e caros, que além de elevar o preço final do livro, dificulta o acesso de pessoa de baixa renda.

O livro é tratado como objeto de luxo em todas as instâncias. Na fase inicial de escolha, as grandes editoras apostam na auto-ajuda e nos títulos que já renderam uma robusta vendagem no primeiro mundo. Na segunda etapa, a parte de produção industrial, os livros produzidos no Brasil, na sua grande maioria, são de encadernações luxuosas e caras.

No nosso país se faz propaganda de tudo, até de bebidas e cigarros, menos de livros. O espaço que a grande mídia reserva aos livros é tão ínfimo que podemos dizer que é desprezível. No Brasil se gasta milhões e milhões de reais do dinheiro público, para pagar passagens aéreas, diárias e outras mordomias para deputados e ministros e não se gasta nada com livros de leitura.

Os livros deveriam possuir dois tipos de encadernação, uma simples, barata e acessível para as pessoas que necessitam e que gostem de ler. Outra luxuosa para aqueles que têm condições ou que fazem questão de ter uma biblioteca rica e apresentável. Outro fato interessante seria descentralizar a comercialização do livro. Pontos de vendas de livros baratos deveriam estar espalhados nas periferias dos grandes centros e nas pequenas cidades do interior. Aquilo que é visto e que tem um bom preço desperta a curiosidade e é consumido pela população.

Falar que o brasileiro não tem o hábito de leitura não é verdade. O que falta é tratar o livro como um objeto de necessidade, de fácil consumo e não como um material de luxo. Restringir o consumo de livros é manter o povo no cativeiro da ignorância.


Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 28/05/2009
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