UM CRUCIFIXO

Eu sou um crucifixo...

Muitas vezes sou apenas uma cruz... vazia, com meus braços abertos. Às vezes, com um tecido branco por sobre os braços, simbolizando o linho com que desceram o corpo do Cristo crucificado... outras vezes, de madeira comum ou até mesmo de ouro.

Quase sempre perfeito... de feições artísticas...E outras vezes quebrado, partido lacerado.

Como cruz fui feita pelas mãos dos homens a mando de Poncio Pilatos...

Fui carregada pelo Mestre e sobre Ele caí por três vezes...

Simão, o Cirineu colocou-me às costas e aliviou o meu Senhor do meu peso, que lhe dilacerava os ombros em chagas.

Deitada ao chão do Golgota recebi o corpo sofrido e vilipendiado de meu Jesus.

Com cravos pregaram Suas mãos às minhas...

Ergueram-me e todos puderam contemplar o sofrimento!

E Maria abraçou-me soluçante...

Maria Madalena prostrou-se por terra, soluçando à minha sombra...

E em meus braços o Nazareno deu o último suspiro.

Assim, sou o crucifixo que lhe recorda o martírio de Jesus.

E me pergunto o porque de tantos e tantos crucifixos entre os homens... Nas ruas, praças e avenidas vejo jovens, moços e velhos...e todos têm um crucifixo pendurado ao pescoço...Alguns o usam até mesmo nas orelhas.

Estou às portas de muitas igrejas que contrastam com a humildade de minhas vestes e com a simplicidade de meus ensinamentos.

Estou no gabinete de muitos políticos que me julgam surdo, pois tudo ouço, mas me quedo mudo e inerte.

Estou preso à cintura de muitos religiosos que nem mesmo sabem o porque de Eu estar ali.

Estou na sala de refeições de muitas famílias que brigam à mesa.

Estou na parede de muitos dormitórios de casais que se traem.

Colocam-me em oficinas e salões, ao lado de inúmeras fotos de mulheres nuas, sorridentes e infelizes.

Estou também em consultórios onde represento apenas um símbolo preso à parede, já que ali praticam tudo, menos cristianismo.

Penduram-me em entidades de ensino onde “cristãos” se envergonham de pronunciar o nome de meu Mestre, como se Ele tivesse traído Judas e não ele ao Mestre.

Põem-me em clubes onde sou somente ornamentação.

Estou perto de balcões onde à minha frente desfilam bêbados, vagabundos e aliciadores de menores.

Colocam-me em salas de cinemas onde exibem filmes pornográficos para o faturamento do dono (que é cristão).

Expõem-me em associações onde eu apareço menos que todos.

Penduram-me em templos que contrastam com a singeleza das vestes do meu Cristo.

Põem-me em hospitais que não recebem seres que meu Senhor chamou de “seus pequeninos”.

Estou em paredes, pescoços e orelhas...

Mas eu deveria era estar primeiro no coração de todos!

Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 28/05/2009
Código do texto: T1619487
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.