O porre do dia das eleições.

O porre do dia das eleições.

- Essa crônica foi escrita logo depois das últimas eleições municipais...

Como das outras vezes, desci a GO-060 rumo à Terrinha, para cumprir o dever cívico de votar - já tinha na cabeça, os nomes do meu candidato a prefeito e vereador.

As eleições são sempre "o" grande evento, entre os que ocorrem na Terrinha. Somente ele é capaz de mobilizar a sociedade inteira, de alto a baixo. Não há escapatória: a maioria se engaja, toma partido e participa ativamente das campanhas eleitorais.

O dia da eleição, entrementes a disputa eleitoral e a catarse do seu resultado, é um dia incomum e festivo, pois os eleitores da zona rural, da zona urbana e de outras cidades, enchem as ruas, perto dos locais de votação, onde vão se juntando em pequenos grupos compostos de parentes e amigos que há muito não se viam ou, que discutem sobre a eleição, em geral de forma amistosa (noves fora, aquelas amizades estremecidas por conta de escolhas e opiniões).

Saí bem cedo da casa de meus pais para a votar. Depois do voto, desci a avenida principal e fui parando, de grupo em grupo, cumprimentando parentes, reencontrando amigos e, discutindo sem compromisso o panorama político da eleição, passando ao lado fórum, chegando até o pátio da prefeitura.

A eleição para prefeito estava virtualmente decidida. Meu candidato a vereador, todavia, diziam, ia dançar. E falamos da eleição de Goiânia e entorno e tal...

De vez em quando, um amigo chegava ou saía do grupo, em silêncio - ia, discretamente, cabalar uns votos, claro. O juiz eleitoral passou e parou ali por perto, para se inteirar dos nossos assuntos, mas, depois de ouvir muita leréia, foi embora, porque motivo para fiscalização, não faltava. Muitos candidatos a vereador estavam desaparecidos - todo mundo suspeitava da razão, desconsolados...

Virando na rua lateral, em direção ao colégio e, encontrei um irmão, filhos e sobrinhos, fazendo volume de propaganda disfarçada para um candidato da família, que não era o meu. Depois de algum tempo, resolvi voltar para casa e, dar uma olhada na cobertura televisiva das votações - em Goiânia estava acontecendo uma coisa estranha, um rolo relacionado com o mau funcionamento de urnas eleitorais, que estariam falhando clamorosamente, me disseram pelo celular (o que resultou, ao fim, na abstenção forçada de mais de 100.000 eleitores - algo semelhante ao que ocorreu em Belém, me diz uma amiga do Netlog - sem que a causa tenha sido esclarecida pela Justiça Eleitoral, que não foi cobrada pela imprensa local, sempre solícita ou complacente).

Quando estava a 30 metros da casa de meus pais, tive o caminho subitamente fechado por uma viatura policial. Os dois broncos que desceram dela, vieram me informando que eu estaria em "atitude suspeita" perto do local de votação e, dispararam um bom número de perguntas estúpidas. Na terceira e firme resposta, desistiram alegando prestar um serviço à democracia, momento em que aleguei ser "um soldado" dela. Faltando-lhes neurônios para entender a ironia, se foram, naquele jeito ostensivo de "mostrar serviço" da categoria.

Pouco depois de ter chegado em casa, me informaram que dois tipos, sabe-se lá porquê haviam me seguido o tempo todo, enquanto transitava pelo centro da cidade, rumo à sessão eleitoral, e na volta - eram militantes da candidatura do adversário do meu candidato a prefeito (que, sofreu uma derrota para lá de previsível), que, certamente, haviam me "indicado" aos policiais, sugerindo "averiguações"...

Depois de descansar encontrei uns amigos e, à conta do calor, saímos à caça de um lugar para tomar umas brejas, a despeito da lei eleitoral.

Chegando a um bar de um conhecido da turma (onde havíamos bebido nas eleições municipais passadas), fomos levados a um depósito dos fundos, onde nos serviram cerveja e tábua de frios. Éramos sete, no começo. Mas foi chegando mais e mais gente e, aquilo virou uma festa. O assunto era os prognósticos e galhofas em torno dos candidatos, evidentemente - um, foi caçado por que não tinha votado na eleição anterior, outro renunciou, por conta de falcatruas, um terceiro foi flagrado distribuindo televisão para eleitores e, na cidade vizinha, um candidato a prefeito fugiu do flagrante de compra de votos, escapando pelos fundos da casa, em direção à zona rural, por onde ficou e, por aí, ia a coisa.

Quem entrava, dizia que, lá na rua, havia um plantão de militantes políticos, assaz interessados no movimento e na barulheira, nos fundos do bar. Mas, nada acontecia, até que, por volta da décima-quinta garrafa, chegou o dono do bar e avisando: "gente, o juiz chegou aí..." Foi um pandemônio - gente tentando se escafeder por todo lado e, de qualquer jeito, quando ele completou: "gente, é um juiz de futebol!"...

Às 17h:15min., já estava confirmada a vitória do candidato a prefeito.

Daí em diante, foi só barulho e fuzarca, na cidade. Mas, àquela altura, a coordenação motora e mental duvidosa recomendava banho, cama e, sono - era preciso me preparar para arribar, na madrugada da segunda-feira, em plena ressaca cívica (esse tipo de ressaca não é muito complicada e passa. Mas a dor de cabeça com os maus políticos eleitos, costumam durar 4 anos!).