PERFIS MARIENSES (4) – Chapéu do Correio
E o Chapéu do Correio?
Renomado piadista,
Morreu mas deixou a fama
De histriônico artista,
Talento reconhecido
Como capaz humorista.
Dediquei esta sextilha ao amigo Chapéu do Correio no meu livro “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, onde esbocei um itinerário histórico e poético, dentro da poesia popular, como um resgate da história desse simpático município paraibano. O trabalho pretende ser, em sua modéstia, uma espécie de ABC dos homens simples que construíram a base do que somos hoje.
O nome dele é Edvaldo Sobrinho, mas em Mari ficou conhecido como Chapéu do Correio. O chapéu não sei de onde veio, mas o Correio era seu lugar de trabalho, por isso o apelido.
Chapéu era um sujeito feio, com as feições parecidas com o Amigo da Onça, criação genial do caricaturista Péricles Maranhão. Outros achavam Chapéu mais parecido com o resultado do cruzamento de uma capivara e uma marmota. O seu grande amigo Romildo ferroviário dizia que Chapéu era tão feio que ganhou um concurso de feiúra pelo telefone. Nem precisou se apresentar... “Mas se torna um cara bonito pela simpatia”, acrescentava Romildo.
Uma cidade, além de suas características econômicas e políticas, de suas potencialidades naturais, tem como riqueza o seu folclore, a maneira de ser de sua gente, a alma da coletividade representada pelos seus tipos populares. Chapéu do Correio era uma pessoa que representava muito bem a alma do mariense. Na cidade não existia outro mais engraçado, mais simpático e bonachão. Suas “estórias”, a imitação que fazia das pessoas, a sua verve, enfim, sua alegria, criatividade e filosofia de vida foram incorporadas ao folclore mariense.
Cheguei em Mari no ano de 1988, época em que ainda jogava um pouco de futebol de salão. Fui treinar na quadra da Escola José Paulo de França com outros veteranos, entre eles o Chapéu, tão ruim de bola quanto eu. No meio do jogo, alguém me pede para dar a vaga a outro jogador e emprestar o tênis. Descalcei meu tênis novo e fui para a arquibancada, onde estava o Chapéu, também descalço. “É assim mesmo, meu velho, jogador ruim só serve pra emprestar o tênis para os que sabem jogar”, me disse Chapéu. Foi a primeira vez que vi o cara. Daí saímos para um bar, onde passamos a noite tomando cerveja e conversando. Foi o início de uma convivência de mais de dez anos com o humor de Chapéu. Tomei muito “capim santo” com ele nas bodegas, nos bares e nos cabarés. Foi meu lugar-tenente na Liga de Futebol que fundei na terra de Adauto Paiva.
Já morando em João Pessoa, soube da morte de Chapéu no ano passado. O meu amigo passou por algumas dificuldades, porque nem mesmo os humoristas estão “escape” aos perigos da vida, às armadilhas do destino. Chapéu atravessou sérios obstáculos, alguns bem penosos, barreiras que seu coração não conseguiu superar. Morreu essa figura humana extraordinária. De repente fez-se silêncio na platéia. Mari ficou menor, sem um dos seus mais expressivos filhos.
Quando morre uma figura como Chapéu do Correio é que avaliamos o quanto valem, significam e representam para a comunidade esses homens simples que, com sua arte e sensibilidade, fazem o povo e a terra mais felizes. Fiquei muito triste com a partida prematura do amigo Chapéu, e de não ter podido levá-lo à sua última morada. Nunca mais ouvirei suas piadas nem me contagiarei com sua alegria calorosa, espontânea e permanente. Fica a esperança de que ele estará sempre na lembrança dos seus amigos e irmãos marienses.