FALAR É FÁCIL

Fiquei na dúvida de como utilizar corretamente o verbo "ver", no caso de televisão. Eu dizia ao leitor que, quando fosse "ver" na tv... Aí veio a dúvida: quando "ver" na tv ou quando "vir" na tv? Entre pesquisa em gramática e consulta a uma de minhas irmãs das letras, optei pela segunda, ali, mais à mão e às falas, que é melhor. Depois fiquei pensando e constatei logo o quão exigente é a nossa língua (da qual me orgulho muito, que fique bem claro). Mas, "por que" falamos tanto e somos entendidos e o mesmo não pode ocorrer com a escrita? (esse pronome também é trabalhoso, tem umas quatro ou cinco formas).

A nossa tendência para a transgressão acho que vem daí. Quando crianças aprendendo a falar e, não dominando ainda a palavra escrita, não há que conjugar, concordar nem flexionar nada. Depois, na escola, tomamos um choque. Ensinaram-nos a falar de um modo e daí por diante (da alfabetização), "o buraco passa a ser mais embaixo." Surgem as regras. Acho que o sujeito que inventou as regras gramaticais, não tinha lá muitos predicados.

Se o verbo é "ver" e vira "vir" no futuro do subjuntivo (ave, Maria!), quando usamos "vir" de algum lugar, passa a ser "vier". Aliás, para aprendermos subjuntivo, pretérito, defectivo (credo, parece outra coisa), anômalo, e tantos disparates mais, temos primeiro que ir ao dicionário para saber o que são esses palavrões. Parece xingamento.

Isso é o que dá brecha para os modismos linguísticos. O modismo na língua é uma forma de universalizar o "não sei". É um consenso geral e quase total em torno de expressões e falas criadas. Produzem comunicação, com todos os ruídos e chiados possíveis, mas estabelecem uma transmissão e recebimento de uma mensagem (captou a minha?). Estamos agora vivendo o exemplo dos gerúndios (dá para estar me entendendo?). Temos também a gíria e o aportuguesamento, que tanta dinâmica emprestam à nossa “flor do lácio, inculta e bela” * , dizia o nosso grande Olavo Bilac.

Com o advento das imagens e da internet, a escrita vem perdendo cada vez mais terreno para essas formas de comunicação. Não quero julgar se empobrecem a língua, nem tenho tal capacidade, mas, nesse ritmo, acredito que vamos nos comunicar exclusivamente por mímica daqui a algum tempo.

Daria para fazer um livro com todas as possibilidades, dúvidas, apreensões e discorrer por milhares de páginas sobre o assunto. Mas como a leitura já está quase se tornando uma atividade de especialistas, tô falando e andando.

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* Lácio (em latim, Latium; em italiano, Lazio) é uma região da Itália. A última flor refere-se à língua portuguesa, que é originada do latim.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 28/05/2009
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