Criar o demônio e esconder o inferno

Na antessala do inferno, um grupo de abnegados estava reunido para decidir os rumos da nobreza reinante. Não era um trabalho difícil, pois no local tudo funcionava com extrema perfeição. Afinal, ali a máquina sempre foi muito bem azeitada. Nunca faltou merda, ácido, água fervente e veneno de todos os tipos. Tudo o que se tinha, excedia ao máximo do que era necessário e o setor que possuía o estoque maior detinha também a parcela maior do poder, além de status e visibilidade.

Porém, como sempre há um “porém”, a ambição, inveja, ganância (e todo arsenal que se alinha a esta “facção” do poder), resolveu dar o ar da graça. Fornecedores e compradores de ácido, água fervente e venenos observaram que a ala da merda tinha um giro fenomenal. Era ali que se preparavam os novos integrantes da casa, aqueles que representam o futuro do lugar, razão pela qual era chamada de ala da merda.

Por esse motivo, legiões de diabos e capetas foram mobilizadas para o levantamento de uma estratégia eficaz que culminasse na tomada do setor da merda. Era necessário “criar” o demônio e esconder o inferno. Detalhe importante foi o clima de amizade que se instalou no trabalho de “fudê” o outro. Mas isso não assusta a ninguém... A história prova que toda vez que é pra botar no toba de algum inocente, inimigos tornam-se velhos camaradas.

Retomando a linha inicial de raciocínio, todos sabiam que (o novo projeto) não seria tarefa fácil e tinham consciência de que com a queda do líder invejado, os benefícios se estenderiam a um grande número de parasitas e militantes do inferno. Ocorre que, para mexer numa estrutura é necessário alguém que tenha credibilidade e na falta desse alguém, a atuação de um hipócrita sempre é de grande serventia. E o que não faltava para isso, era material “humano” com o perfil exigido para a execução da tarefa.

Depois de tudo organizado, passaram a procurar a figura de um voluntário. Aquele que fala de Deus, mas que se destaca pela cegueira de alma. Seria o “leva e traz”. O que faria tudo sem ter olhos para ver a importância de sua função e sua presença indesejada no meio do grupo. É o morno. Aquele que o céu vomita. É o burro de carga que transporta gratuitamente todos os fardos das acusações, sem perceber as verdadeiras intenções de quem arquiteta o estratagema.

Aliás, nesse tipo de ação, o que menos importa é trazer à luz do conhecimento, as intenções dos acusadores, principalmente porque o silêncio é o código de ética dos aproveitadores da boa fé do próximo. Afinal, se a intenção chegar à tona, toda a luta perde o sentido. E o que seriam da evolução e da verdade, se faltasse merda pra ser jogada nos lugares em que o trabalho é fonte de renda dos parasitas?

2002

fiore carlos
Enviado por fiore carlos em 27/05/2009
Reeditado em 31/05/2009
Código do texto: T1618492
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