FOGUEIRA DE VAIDADES

Hoje resolvi refletir sobre o significado de “fogueira das vaidades” e o quanto esse lume queima a quem joga lenha para mantê-la acesa e o quanto se fere quem está próximo a ela.

Lembro de um filme cujo título homônimo faço empréstimo nessa reflexão. O filme abordava o poder e influência dos ricos e políticos e o modo como faziam uso dessa ferramenta para manipular a opinião pública e, assim, escaparem ilesos de seus crimes e falcatruas. Em linhas gerais, a história resumia-se a uma crítica em tom satírico sobre a tênue linha que separa a extrema pobreza da elite, quando por ironia do destino esses dois mundos se cruzam e dão início a uma rede de intrigas. Uma sucessão de vários acontecimentos que demonstram o quanto a articulação política absolve e protege alguns inescrupulosos, mas como a verdade também pode imperar quando se descruza os braços e se passa para a ação. E uma séria reflexão sobre o quanto se fecha os olhos para algumas verdades em nome da já “manjada” troca de favores.

Desde que o mundo é mundo (ou que me conheço por gente), tenho observado vigorar a lei do mais forte. E quanto mais observo essa prevalência de injustiças e inversão de valores, menos questiono a Lei de Talião (olho por olho, dente por dente). Também já me cansei de ver os interesses individuais se sobreporem aos coletivos. Mas penso que, atualmente, a conotação adequada para a chamada fogueira das vaidades tem mais a ver com a ferrenha briga pelo poder. O quanto a ética, a solidariedade e outros valores fundamentais para a boa (com)vivência da humanidade já são considerados obsoletos. E revolto-me com essa constatação. Não sei se por utopia ou teimosia, ainda tenho fé na humanidade e nos bons princípios atinentes à sociedade. Tudo o que se vê é um povo que elege seus representantes de maneira irresponsável e depois, de braços cruzados, facilmente assiste a tudo passivo e critica as atitudes sem tomar partido da situação ou agir de modo coerente. Parecem meros expectadores das antigas arenas, sendo que o papel outrora ocupado por leões, hoje tem por ocupantes nossos representantes eleitos pelo chamado processo democrático. Fácil assistir políticos literalmente se degladiarem em um circo de horrores. E pior: decidindo o que é melhor ou não para todos! (Na verdade, valendo-se do título que ostentam, sob o pretexto de representarem os interesses coletivos, mas obviamente, se favorecerem individualmente. Lamentável. E em nome dessa fogueira de vaidades, quem paga o preço, sem dúvida é o povo! Como diria o dito popular: “A corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. Lembremos que os poderosos se fazem por conta daqueles que se julgam fracos ou pela conivência daqueles que não se interessam por temas sociais. De qualquer modo, por omissão.

Por mais revoltante e revoltado que seja o assunto em questão, deixo uma reflexão para quem tiver a oportunidade de ler essas linhas: pensemos se estamos cumprindo com nosso papel de cidadãos ou se estamos apenas jogando lenha para manter acesa a grande labareda da cada vez mais forte fogueira de vaidades.

Patrícia Rech
Enviado por Patrícia Rech em 27/05/2009
Código do texto: T1618466
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