O contista do patético
Hildeberto Barbosa Filho assim se referiu ao escritor Geraldo Maciel, analisando os contos desse narrador único na Paraíba, terra onde o gênero conto ainda não produziu um artista do seu quilate.
Geraldo Maciel, nascido em Nova Palmeira, foi professor no Departamento de Engenharia de Produção da UFPB, e faleceu neste final de semana. Era conhecido por Barreto, foi militante dos movimentos políticos e sociais, mas se destacou mesmo no campo da cultura, como editor e autor. Assis Brasil disse que alguns contos de Geraldo Maciel são verdadeiras obras-primas. O crítico Bernardo Ajzember, da Folha de São Paulo, salienta que as características mais importantes na obra de Maciel estão “na sofisticação do estilo e na costura consciente de um vocábulo refinado”. Autores e críticos são unânimes em perceber a genialidade desse escritor paraibano, precocemente desaparecido.
Em 1995, lançou seu primeiro livro de contos, “Aquelas criaturas tão estranhas”, pela Editora Rio Fundo, do Rio de Janeiro. Nesse intrigante livro, Geraldo Maciel apresenta seus personagens, “gente simples, soldados, prostitutas, agricultores, pequenos proprietários, manicures, artistas populares. Um exército de pequenas pessoas, com seus dramas, grandezas e misérias, traçando uma teia que os enreda, onde a redenção e a queda, a alegria e a tristeza, a salvação e a culpa são faces da mesma moeda”. Escreveu também “Inventário de pequenas paixões” e “O concertista e a concertina”.
Para mim, que tive a oportunidade de ler sua obra no ano passado, não ficam dúvidas: é o contista mais importante da Paraíba. Mais que os medalhões que aparecem nas gazetas, os influentes que fazem parte das panelinhas literárias da Paraíba. Esse admirável escritor tem na sua pequena obra a expressão mais instigante, a prosa mais elegante e criadora desse gênero tão difícil que é o conto, em terras paraibanas. A humanidade exposta nas suas histórias é prenhe de lucidez, envolta no patético, no desespero, na fome e na mesquinhez do dia-a-dia. O encantamento, porém, não vem só da visão social, mas do refinamento e criatividade.
O professor Barreto merece estar na galeria dos nossos mais significativos autores, nessa ingrata modalidade literária que é o conto. Sua obra é surpreendente na originalidade de contar uma história com começo, meio e fim, sem desfecho inesperado, mas com um estilo ímpar, usando recursos próprios de um escritor completo e originalíssimo.
Em toda minha vida, tentei redigir dois contos. Ficaram tão capengas que concluí: isso é tarefa para quem tem o talento. Fico imaginando que o estilo vigoroso de Geraldo Maciel ainda estava maturando, e quantas pérolas restaram em suas gavetas, esperando para tornarem-se universais, patrimônios da humanidade. Pelo menos que a Paraíba conheça sua obra e a valorize, já que em vida o humilde professor não teve o reconhecimento que sua genialidade merecia.