TREMI FEITO UMA VARA VERDE

Na quinta-feira dia 21, fui ao Restaurante Arriégua, na Cidade Universitária, assistir ao lançamento do CD “Sebastião Dias e Diomedes Mariano – Violeiros do Pajeú”. Assim que cheguei, antes de entrar, escutei a voz do grande declamador e poeta, meu amigo Marcos Passos, autor da obra prima, “Antologia Poética – Retratos do Sertão”, um dos melhores livros lançados recentemente com poesias nordestinas.

Demorei um pouco procurando um local para estacionar o carro, em decorrência disso, perdi a oportunidade de ouvir seu recital, pois ele o encerrou justamente quando eu entrei. Foi uma pena, perdi uma grande declamação.

Ao entrar, observei que no restaurante, superlotado, “tinha mais poetas do que gente”. Meus olhos brilhavam de satisfação ao ver toda aquela poetada. Estavam lá, o grande comunicador sertanejo, cantor e compositor, Ivan Ferraz, Maciel Correia, Marcos Passos, Jorge Filó, Júnior do Bode, João Luiz, João Eudes, e tantos outros que nem lembro no momento, além dos repentistas Diomedes Mariano e Sebastião Dias.

Sentei à mesa do grande poeta, meu amigo e colega da UFRPE, Maciel Correia, que agora também virou compositor, pois fez uma parceria com o, quase inigualável, Maciel Melo, na música Estrelas do Passado, do CD Sem Ouro e Sem Mágoa, recém-lançado na Livraria Passa Disco.

Fui cumprimentar o poeta e produtor cultural, meu amigo Marcos Passos. Mal conversamos, ele me convidou para recitar alguma coisa, o que também fez com Maciel Correia. Eu não poderia deixar de atender a um convite desses, mas quando lembrei que estava cercado de grandes poetas e declamadores já comecei a ficar nervoso. Meu corpo era só adrenalina.

Em um pedaço de guardanapo escrevi: Ismael Gaião, cordelista e Maciel Correia, poeta. Ficamos assistindo às apresentações, cada uma melhor do que a outra, enquanto os repentistas, Sebastião e Diomedes, vendiam e autografavam seus discos. Como cheguei um pouco tarde perdi o show do cantor João Eudes, que segundo me disseram, foi espetacular.

Assistimos ao show de Eduardo Abrantes, grande violonista e intérprete das músicas de Elomar e logo depois, ao da cantora Leda Dias, de uma voz belíssima, que terminou seu show me convidando para recitar. Ao escutar meu nome, minhas pernas ficaram numa alegria só. Minhas mãos então, nem se fala. Mas fui. Afinal eu aceitei o convite de Marcos Passos e depois de ter meu nome anunciado não poderia recuar. Só quem consegue fazer isso é o nosso amigo poeta, e também colunista do Jornal da Besta Fubana, Jorge Filó. Mesmo sendo um grande poeta, podem anunciá-lo quantas vezes quiser, ele só faz olhar balançar a mão e dizer, não vou.

Fui ao palco e quando recebi o microfone das mãos de Leda Dias, parecia que ele estava dando choque, de tanto que eu tremia. Quando encarei o público ficou pior. Cantores, instrumentistas, cordelistas, repentistas, e o diabo a quatro. Não eram mais as mãos que tremiam, era o corpo todo. Parecia flandre de Toyota parado em ponto morto.

Como eu sou acostumado a falar em público, porque já fui político, cumprimentei a plateia e conversei algumas besteiras para me acalmar. Iniciei a declamação com meu novo cordel, "No Nordeste é diferente, é assim que a gente fala", do qual eu sempre recito nove glosas. Mas o nervosismo era tanto que eu troquei alguns versos das glosas, com muito cuidado para não perder a rima, nem o sentido da poesia.

Vendo que já estava “embaratinado”, depois da sexta glosa fui direto pra última e conclui o poema: “Desde o tempo da senzala/Nesta terra nordestina/Seu menino, essa menina/É assim que a gente fala”. Felizmente o público gostou e me aplaudiu bastante.

Nessas alturas, eu já estava mais calmo, então recitei os poemas "Soneto para um grande amor" e "Menino de Rua", ambos também de minha autoria, os quais chamaram a atenção dos presentes, que me felicitaram com calorosos aplausos. Que bênção!

Recife, 27 de maio de 2009