INVEJOSA INVEJÁVEL



Começo a escrever a crônica.


Falar de inveja sempre me pareceu complicado. Sei que tenho e posso sentir inveja, afinal sou humana.


Por que, então, às vezes, admiro e outras, invejo?


Interrompo o pensamento. Parece que escuto uma risadinha abafada, cínica.


(Olho em volta. Estou sozinha. Deve ter sido impressão minha!)


Retomo o fio da meada.


Certa vez, li em um texto que na raiz da palavra inveja existiria a noção do invisível (do latim: "invedere"), ou seja, "não ver".


Enquanto admirar implica em dirigir o olhar para algo ou alguém (e reconhecer sua qualidade), invejar carrega a incapacidade de suportar ver o valor do outro, ou seja, nesta "cegueira"  surge o ataque ao que é melhor.


(Hum... a risadinha outra vez! Não é possível! Estou imaginando coisas! Preciso de férias!)


De volta à crônica.


Neste ponto da história, penso em voz alta:


- Engraçado! As pessoas que invejei não me parecem melhores do que eu! Pelo contrário! Eram simplesmente...


Minha frase é interrompida pela risadinha sarcástica. Quando me dou conta, estou novamente em diálogo com ela:


- Ah não! Minha imaginação outra vez? Dá um tempo! Você não entra nessa história! Isto não é um texto criativo! Não preciso de imaginação! Me poupe!


- Aí é que você se engana, Dona Escritora!


- O que quer aqui?


- Primeiro algumas perguntinhas. Posso?


- Fazer o quê?


- Como saber se alguém é melhor ou pior? Quem é você para julgar? Por acaso o que você acha é alguma verdade que se inscreve em um busto em praça pública? Ou você é um caso perdido de quem acredita que forma opinião?


- O que é isso? Imaginação ou inveja em forma de interrogações?


Minha imaginação é ágil:


- Sou sua melhor parte, portanto, sabemos muito bem quem é a porção invejável e a parte invejosa.


Fico extremamente irritada com essa voz cínica e abusada que se diz minha imaginação! Nessas horas sinto vontade de...


E a voz imaginária, atrevida, completa:


- De dizer que tem inveja até de mim! Sua melhor parte!


Nesse momento da história, lembro uma vilã de desenho animado, que apanha, sofre, escorrega e cai o tempo todo!


No entanto, enfim, sorrio. E digo para ela:


- Talvez, em tempos de crise, aquela célebre frase de Einstein também funcione para turbulências emocionais.


- Pois é, Dona Escritora! Precisa ser gênio para entender que "a imaginação é mais importante do que o conhecimento".


A voz marota imaginária me faz mudar o tom! Faço de conta que mando nesta crônica e decreto:


- Fim do momento humildade! Você se julga o máximo! Então, me responda: por que a imaginação é mais importante do que o conhecimento?


- Porque as medidas são inversas. Quanto mais você mergulha no conhecimento, descobre apenas o quanto ainda desconhece. Com a imaginação é diferente!


- Já sei! Quanto mais imagino, mais sou capaz de imaginar!


- Ah, Dona Escritora! Quase!


- Como assim?


- Quem imagina, aqui, sou eu!


Irritada, mas de volta ao senso (de humor) encerro a questão:


- Ai que inveja!






(*) Imagem: Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 27/05/2009
Reeditado em 24/09/2009
Código do texto: T1617048
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