Interbairros I
Uma noite qualquer.
Uma sexta-feira especial.
Bucho à milanesa, com pão d´ água, pimenta esperta, mostarda escura,...
Cervejinha gelada acompanhando... enfim, um TESÃO!
Ônibus... Não estava motorizado naquele dia.
Eu ia pegar o amarelo Juvevê Água Verde, mas como ele simplesmente não apareceu, resolvi então pegar o Interbairros I, cor verde. Chegou assim que eu parei no ponto de ônibus. Perfeito.
Dia/ Noite frio... não tanto, fez um sol até no período vespertino.
No entanto, no horário em que resolvi pegar esse coletivo, já era noite.
Como de costume, sentei-me no setor frontal do ônibus, antes da catraca, e, logicamente, com a cabeça encostada entre o assento e a janela, no lado esquerdo do ônibus, no mesmo lado do motorista, pronto!
Porém, ao invés de mais uma vez dormir no trajeto, resolvi acompanhar os cenários que me apresentavam. Eu não imaginava que entre o Água Verde e o Centro pudessem haver tantos costelões 24 horas assim.
Em tempo: Costelão 24 horas é um restaurante onde você pode comer costela, polenta e maionese À VONTADE! Sabem o que é isso? Então...
Deparei-me com um tal Boteco de Sampa. Pelo vidro da janela, pude observar uma apetitosa massa sendo apreciada por um bom número de pessoas naquela mesa. Estas pessoas provavelmente bebiam um saboroso vinho, ou então inevitáveis cervejas.
Este bar realmente possui uma concepção arquitetônica que lembra alguns requintados e charmosos botequins da paulicéia desvairada. OK.
Seguindo a viagem, deparo-me com o hospital psiquiátrico do Prado Velho. Lembro que na minha infância / adolescência eu havia visitado esse local, e tinha sido uma experiência marcante. Triste, traumatizante, mas necessária para conhecer melhor esse tal mundo em que nós vivemos.
No dia anterior eu havia acabado de ler uma reportagem da ótima revista Carta Capital acerca de eletro-choques, que ainda são aplicados em pacientes psiquiátricos. E, o pior de tudo, com o total consentimento dos familiares dos pacientes.
Hospital Psiquiátrico do Juquery-SP e depoimentos de Austregésilo Carrano Bueno, um dos líderes do movimento anti-manicomial, também faziam parte desta excelente reportagem.
Voltando ao ônibus, resolvi então prestar atenção na conversa entre motorista e cobrador, e vice-versa. Eles falavam sobre música argentina, sobre Carlos Gardel. Imaginei que, se eu tivesse entrado nessa parte da conversa, eu não saberia o que dizer, pois pouco sei acerca de Gardel e do tango argentino. Evita que me perdoe! Evitemos isso!
Depois de falarem sobre Gardel, motorista & cobrador falaram sobre as maiores fortunas do Brasil, citando Antonio Ermírio de Morais e ele, Silvio Santos Abravanel. Disseram que, se Silvio Santos pudesse se candidatar nas eleições presidenciais de 1989, ele teria liquidado a fatura e se tornaria presidente da República. No entanto, forças ocultas impediram a candidatura do SBT Man. Lembro que isso ocorreu no início de minha adolescência, e eu devo ter torcido para o Silvio na ocasião. Mas enfim, coisas da vida...
Seguiu-se o baile, digo, o itinerário do coletivo e chegou minha vez de pagar a passagem.
Eu possuía o cartão de vale-transporte, mas a máquina não aceitou o famigerado cartão. Como eu pedi exoneração do cargo público que eu ocupava, a Prefeitura e a empresa de transporte público trataram de invalidar imediatamente o meu cartão. Ao comentar o ocorrido com o cobrador, ele disse:
-Pois é. O quanto esses políticos ganham? Muito, né? Em época de eleição, eles são os primeiros a pedir. Agora, na hora de tirar os direitos do povo, eles são os primeiros a tirar de nós, pobres contribuintes, não é verdade?
Lógico que concordei em gênero, número e grau com o simpático cobrador.
Após me despedir deste simpático cobrador, chegou a hora de descer deste ônibus. Saí caminhando, na minha ocupação de andarilho urbano.
Veremos o que o próximo ônibus da vida me apresenta.
E, logicamente, vinho tinto é uma das melhores coisas dessa vida...