A FILA ÚNICA (Entendi que os ditos normais também são discriminados.)
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Não sei se estou na fila dos correios ou na fila para o caixa do Banco Bradesco, só sei que a fila é única para um caixa solitário; talvez seja por isso que perdi um dia inteiro e fui almoçar às 15 horas, tentando quitar um boleto pagável apenas no Banco Bradesco. Mas, foi divertido! O único caixa atendente até que trabalhava rápido! Porém, a fila... Ah! A fila não andava; eu tinha a senha 738, porque cheguei às 10h. Que segunda-feira lúdica, aquele dia 07 de maio de 2007! Chegou uma mulher grávida; logo após, chegou também uma senhora idosa e um policial. E pela ordem de prioridade, o caixa chamou primeiro o policial devidamente fardado. A idosa se acomoda logo atrás, e a gestante, a seu lado. Nascia ali um amontoado dos especiais, os que não precisam de senha. Nós outros, devidamente credenciados, com uma senha empunhada, apenas assistíamos impotentes o desenrolar do procedimento. Chega mais um idoso, outro e mais outros; uma grávida, outra e mais outras. Sem falar que todo instante se achegava ali qualquer um para pegar alguma informação aleatória; era rápido, mas interrompia. Recuso-me a reproduzir o que ouvi naquela fila discriminada, coisas que donzela, de alguns tempos atrás, não podia ouvir. Logo um cidadão, mais exaltado, pega o aparelho celular e liga para o 0800 recomendado, fala e fala “coisa com coisa” e saiu pisando duro como quem estava muito ofendido.
De tão cansado desejei ardentemente que alguém desocupasse uma cadeira, daquelas ali da direita. Finalmente desocuparam duas na primeira fileira, corri para uma, e uma criança pegou a outra vizinha. Em seguida, a mãe daquela criança toma-lhe o acento e a coloca no colo. Ela insatisfeita chora e esperneia tanto que chamou a atenção de todos; eu indisposto a levar pontapés, tive que me levantar para ter um pouco de paz. O interessante é que aquela senhora tratava a malcriação do filho com muita simpatia, e, para fazer bonito na frente do povo, então resolveu ficar em pé, deixando-o sozinho espaçosamente e esparramado nas duas cadeiras acolchoadas, enquanto ela, a mãe, e uma dezena de pessoas ali, estufando as varizes.
De repente, zera-se o cronometro contador de senha! Os berros aumentaram! Agora, até aquela mãe perde o equilíbrio e xinga palavrões diante de seu filho, que já estava mais calmo. Eu, porém, descarregava a tensão, sorrindo daquilo tudo. Passados, mais ou menos, quinze minutos e o contador voltou marcar a sequência de onde parou. Ufa! Deram um jeito, que bom!
Finalmente chegou minha vez, meu número apareceu ali no painel eletrônico, que felicidade! Só tinha que esperar o atendimento de mais dois pendentes que voltaram para o atendimento extraespecial: aqueles que ficaram devendo documento, pois já estiveram na fila. Foi aí, que com um ar da mais fina ironia, perguntei ao caixa atendente que acabara de chegar porque o anterior saiu para almoçar:
— Nunca coincide de os dois estarem atendendo ao mesmo tempo?
Nada me respondeu! Então, comparei o trabalho da dupla como em uma meia maratona de revezamento, até porque, o atendente anterior tinha percorrido aproximadamente 10 km, indo e vindo num espaço de 5m, do seu caixa à gaveta que portava as moedas para troco. É... E como sempre se precisa de troco! Este é meu troco pelas horas de passiva improdutividade. As pessoas produtivas, que mais precisam do seu tempo de vida útil para trabalhar, são as que mais perdem tempo por métodos abusivos que tolhem sua fluidez: filas únicas. Entendi que os ditos normais também são discriminados.