PERA OU MAÇÂ

Quando crianças, eu e mais um grupo de amigos, gostávamos muito daquela brincadeira onde se escolhia se queria ser pera ou maçã e tudo era muito simples, agente escolhia entre aquelas duas frutas de água na boca mas ninguém comia fruta, conforme o gosto e a escolha se ia para um lado e assim até que acabassem as crianças da fila e ganhava o jogo a fila que tivesse mais frutas (crianças). Mas era preciso crescer, adolescer e então, a brincadeira ia acabando. Era preciso saber muito bem para que lado se queria ir. E tudo foi ficando complicado.

Enfim, a idade da razão! Agora sim, sou dono do meu nariz, agente pensava. Mas o caminho da responsabilidade é árduo e dói. Cada tombo um aprendizado. E vinham os carões , os puxões de orelha, a vergonha pelos erros cometidos, as vezes tão inocentes, porém não sabíamos que o pior estava por vir.

Começávamos a olhar mais para os lados, cada vez para mais longe, já não eramos o centro do mundo. Estávamos soltos dentro dele.

E era imensa nossa responsabilidade perante a nossa família, depois perante o futuro e por conseguinte perante nossos próprios filhos. Nossos exemplos tinham que ser os melhores. Trabalho, ética, amor ao próximo, tudo muito concreto.

Porém com o passar dos anos fomos adquirindo algo muito estranho. Experiência, vivência , cansaço talvez, por ver tantas mazelas neste mundo.

E cada vez mais aumenta a angústia, estamos velhos agora e o que fizemos? Por que estamos aqui? Falo na terceira pessoa porque sei que esta angústia acompanha os passos de muitos dos meus amigos da brincadeira “pera ou maçã”

Hoje quando ouço políticos falando em soberania nacional, fico pensando se não seria hora de se falar em igualdade mundial. Acredito firmemente que sem esta igualdade nunca teremos nenhuma soberania. Nos sentiremos sempre solitários. Igual como me senti quando tinha oito anos, quando mesmo sendo uma menina muito pobre era feliz e um dia ao voltar da escola senti-me culpada pela dor e infelicidade de meus semelhantes. Nunca contei nada a ninguém sobre aquele sentimento que com o tempo foi se acostumando no meu coração. Só que hoje ele está mais consciente, a ferida cresceu e já não tenho muita esperança de cura. Tento fazer algo por meus semelhantes, mas o tempo passa e é tão pouco o que posso.

Que mundo vamos deixar para nossos.... O que mesmo? Filhos, irmãos, gente igual agente que pode estar distante mas que sinto doer em meu sangue.