BEM VINDO AO CLUBE
É interessante como essa questão de fazer parte de um grupo, de estar enturmado com uma “galera”, vem se tornando uma tradição cada vez mais presente no âmbito adolescente, e essa tendência pode ser vista em qualquer lugar, tanto nas escolas, nos bairros de classe média, alta e baixa, enfim, o jovem está sempre buscando parcerias que preencham suas necessidades absurdas, algumas vezes.
E esse assunto me veio à memória, quando meu sobrinho de dez anos chamado Luan, retornou da escola hoje pela manhã. Notei que estava um tanto desconfiado e apresentava um olho roxo, sua professora ressaltou que o hematoma seria proveniente de uma briga que tivera com um garoto na rua. Perguntei-lhe sobre o que tinha acontecido, por que havia brigado com o menino, mas ele não esboçou qualquer resposta, ficou com a “cara” fechada, sentado no sofá esperando, sem nenhum constrangimento, o castigo que minha tia (sua mãe) iria lhe impor.
Em certo momento na sala, peguei-me observando o garoto, ainda com aquela expressão “emburrado” mais ao mesmo tempo, com uma satisfação nos olhos de quem conseguiu algo que tanto desejava, foi então que me lembrei de quando tinha a sua idade, encontrava-me em uma situação similar.
Há quase quinze anos atrás na mesma escola em que meu primo estuda atualmente, eu também estudava e nos fundo do estabelecimento existia uma casa na árvore construída há muito tempo atrás por garotos de gerações passadas. Lá funcionava um clube, um tipo de “gangue”, que fazia a sensação para os moleques que ficavam na rua matando aula, como eu. Os membros da turma promoviam festas, jogos, e em épocas festivas produziam suas próprias bombas caseiras, para serem explodidas nos arraias que alegravam o bairro em festas juninas, enfim, empenhavam-se em toda a sorte de ocupação desnecessária, porém, bastante atrativo para um garoto como eu, cansado da mesmice da vida na classe média. Nesse exato momento decidi que entraria na “gangue” mesmo sem ter conhecimento do que era necessário para fazer parte dela.
Depois de apresentar para os integrantes da gangue meu interesse em fazer parte do clube, fiquei conhecendo a política de inserção, não era algo tão fora do comum, contudo exigiria muito esforço e determinação da minha parte. Para tornar-me membro do clube era necessário que eu brigasse com um garoto que também, na mesma situação em que me encontrava, tentava fazer parte da gangue. A luta aconteceria num campo de futebol próximo a escola. Os membros da gangue juntamente com os dois candidatos, eu e o outro garoto, já estávamos no local e antes de ter sido dada por encerrada a aula, os garotos que estavam na escola, sabendo da disputa, correram para o lugar do duelo e se amontoavam gritando: “briga,briga,briga...” Foram ratificadas as regras do combate para ambos os concorrentes, onde, aquele que primeiro imobilizar seu adversário será o vencedor e merecedor em fazer parte do clube.
Ficamos frente a frente, eu e meu oponente, um garoto da minha altura, estava com os olhos fixos nele, então foi dado inicio ao combate. À medida que engalfinhávamos os meninos que assistiam, gritavam como loucos nossos nomes, foi uma briga frenética onde ambos queriam a vitoria. Foi quando num excesso de confiança do meu adversário em tentar me atingir com um chute consegui segurar sua perna, e ficando ele com o equilíbrio comprometido, derrubei-o no chão imobilizando-o logo em seguida, vencendo assim o duelo.
Eu estava exausto, apresentava vários hematomas inclusive um olho roxo, e ao mesmo tempo estava muito contente e orgulhoso por ter conseguido vencer o combate e assim poder entrar para a gangue. Os professores e funcionários da escola chegaram ao local logo depois da baderna, e alguns alunos, os que não correram , foram levados para suas casas.
Depois de lembrar esse fato, olhei para o meu primo e com autoridade na voz perguntei-lhe se havia vencido a luta, ele me olhou meio desconfiado, mas com muita segurança fez um sinal de afirmativo com a cabeça, cheguei, mas perto dele coloquei a mão no seu ombro e com um ligeiro sorriso nos lábios parabenizei dizendo: bem vindo ao clube moleque, então saímos da sala rindo, em direção a rua.
Depois fiquei sabendo dele mesmo que o clube ainda existia e que ele agora fazia parte da gangue em que, anos atrás eu era membro.
E essa busca de querer se enquadrar num rol vai sempre existir não importa qual seja o seguimento em questão, no meu caso e do Luan, por morarmos no mesmo bairro, optamos por fazer parte do clube da árvore.