Cribb Dancing
Ele viajava muito, a serviço. Na volta, sempre lhe trazia um mimo, roupas, sapatos, itens de decoração para a casa.
Quando chegou da última viagem, ela não foi recebê-lo à porta como das outras vezes. Foi à sua procura. Encontrou-a afundada no sofá, amuada, nem lhe deu conversa. Quis saber o que estava havendo, mas ela não disse. O clima estava pesado e não melhorou nem mesmo quando ele entregou-lhe a lembrancinha da vez, uma linda camisola de seda azul. Ela agradeceu sem empolgação e serviu o jantar. Não sentou-se para acompanhá-lo.
Ele ficou tentando imaginar o que teria acontecido. Até a véspera, quando haviam se falado por telefone, estava tudo bem.
Beliscou a comida, sem apetite, ansioso por descobrir o que ia na alma de sua cara metade. Encontrou-a abraçada a uma almofada, assistindo a novela das oito.
- Novela? Você nunca assiste novela..
- Pode mudar... não estou assistindo. - ela respondeu sem olhar para ele, entregando-lhe o controle remoto.
Ele desligou a TV sentou-se ao seu lado.
- Meu amor! Por favor. Me diga o que está acontecendo!
Ela levantou-se, pegou na gaveta do móvel o extrato do cartão de crédito e entregou a ele. Perguntou, os olhos marejados:
- Foi divertido?
Ele pegou o papel, olhou-o rapidamente, sem entender nada.
- Olhaí! Na sua última viagem ao Rio. Cribb Dancing!!
Ele olhou os lançamentos e identificou lá. Sessenta reais. Cribb Dancing.
- O que era? Boate?
- Não, meu amor. Nunca fui a boate em minhas viagens. E se fosse, não teria porque esconder de você.
- Então?
- Não sei. Não lembro nem do nome do restaurante onde almocei hoje, como é que vou me lembrar de alguma coisa de mais de um mês atrás?
- Ótima desculpa! - disse ela irritada, saindo do ambiente, rumo ao quarto.
Ele passou a semana seguinte tentando imaginar o que seria o tal do Cribb Dancing. Reconstituia na mente seus passos na cidade, mas não conseguia se lembrar do que seria aquele gasto.
Depois de dias quase sem lhe dirigir a palavra, ela finalmente apareceu sorridente, abraçou-o e, aos beijos, pedia desculpas. Nas mãos o presente que ele lhe trouxera da tal fatídica viagem e que ela ainda não havia estreado: uma fina camisa. Na etiqueta, lia-se em cores berrantes: Cribb Dancing.
Imagem daqui.