Planeta água?

A casa estava maravilhosa.

Completamente decorada.Lá fora,o sol colaborava brilhando intensamente.A festa seria na beira da piscina.

Mariana completava quinze anos.Era imprescindível que tudo saísse perfeito.Afinal,era filha única de um grande industrial da cidade.

Teria nota no jornal local,fotos dos convidados e comentários.

Na rua,do lado de fora sentados na calçada,um casal de retirantes descansava.Maltrapilhos,cansados,recém-chegados de uma viagem de muitos dias.

Fugiam da seca.Esperança de vida melhor.

A mulher trazia além de suas muitas sacolas,uma lata.

Lata essa com a qual acostumara-se buscar àgua distante muitos quilometros.Chamava-se Janaína.Uma incoerência de nome,pois tratava-se da deusa das águas e a pobre habitava um dos lugares mais secos do planeta.

Como não tinha muito de seu,a lata viera para capital,fazia-se já parte de seu corpo,uma extensão dele.

Começou observar o vai-e-vem de carros e pessoas que entravam e saiam daquela casa enorme.

Foi andando até o portão,passou facilmente sem que a notassem.Decidiu ir até o fim,nunca havia visto coisas tão bonitas na vida.

Uma música alegre tocava e a convidava a seguir em frente,aguçando sua curiosidade sobre aquele mundo.

Quando chegou perto da concentração de convidados,à beira da piscina,não acreditou.

Nunca tinha visto em toda sua vida tanta água junta ,limpa, num só lugar.Seus olhos brilharam diante do espetáculo.

Sem enxergar as pessoas ou ouvir as vozes que a censuravam,agachou-se na beirada,deitou a lata enchendo-a.

Virou-se e saiu pelo mesmo caminho que entrou.Carregava um tesouro.Tesouro que aprendera valorizar desde que nascera.