SÓ QUERO ESCREVER
(Da minha obra CHEGA?!.)
Lancei meu futuro. Ele é o já. É o agora.
A responsabilidade foge-me. Desobrigo-me do trabalho. Quero escrever sem compromisso com o presente, passado e futuro.
Quero escrever!
Minha pousada está cheia. Hóspedes solicitam-me. Querem garrafas d'água, leite morno ou efetuar pagamentos. Ignoro-os.
Quero escrever. Gritam os telefones. Faço ouvidos moucos.
Quero escrever!
Espero que a campainha não toque, que os serviços bancários não funcionem e que os motores dos carros silenciem.
Quero aprender! Aprender a escrever o eterno bendito fruto das palavras que constituem a escrita.
Quero escrever na mais sã das loucuras.
Para minha escrita, busco no baú da mente fatos passados e
no branco lançados, para o presente dourado, num futuro de luz.
Só quero escrever!
Quero escrever o paradoxo:
— Nascimento de agora, morte do instante e o presente do momento.
Escreverei aos acabrunhados, solitários e aos tristes. Escreverei aos vaidosos e insensatos.
Escreverei ao bom caráter dos desonestos. Escreverei a vários políticos!
Escreverei primeiro à distorção angustiante: o ego, ego , ego... depois eu, tu, ele, nós, vós e eles.
Quero escrever a vida. A vida movida por desejos, angústias e anseios. A vida no propósito e na incerteza. A vida dos exaustos na busca do absoluto.
Quero escrever!
Escreverei às raízes da minha sensibilidade: Mamãe e papai (Rei dos reis.)
Escreverei aos meus filhos. E a eles escreverei com o cerne de minha alma.
Quero escrever ao meu marido com a felicidade de ontem, a dor de hoje e o amor de sempre.
Quero escrever àqueles que amam o incerto, até mesmo sob protestos. E a nós escreverei com a essência do meu pecado.
Escreverei à mãe de todos: a humanidade.
Escreverei rumo a claridade do céu e até mesmo por entre as reticências do derradeiro suspiro.
Escreverei o amor, a dor, o explícito, a renúncia, a irreverência, o suspense, o humor, a paz, a família, o basta e o CHEGA?!