O COMPLÔ

Não sei se vocês sabem, mas há neste mundo grupos (vários grupos) secretos, ou não (como diria Caetano), que nos mantém sob constante vigília. Os motivos são os mais diversos. Pode ser para manter o controle de opinião pública, acobertar segredos escabrosos, planejar coisas inconcebíveis, escamotear, manipular, etc., etc. Normalmente o foco delas está nas grandes massas, em grupos numerosos e com perfis em comum. Você provavelmente já ouviu falar de algumas como a CIA, a KGB, o Mossad, a Rede Globo, o Clube dos Treze e uma das piores: a associação de lojas de R$ 1,99.

Agora, há também aquelas que só têm uma única função: atazanar a nossa vida. São grupos secretos que sobrevivem do seu infortúnio. O seu desespero, a sua desgraça é como se fosse um elixir da vida para eles. Uma energia basal sem a qual eles não conseguiriam viver. É como no filme Monstros S.A., em que o susto das criancinhas é o que gera a força necessária para que os bichos-papões sobrevivam. E, vou confessar, eu sou um dos perseguidos por esses grupos.

Há muito tempo venho tendo sérios problemas com a super secreta O.M.T.P.E. (Organização Mundial de Terrorismo Psicológico dos Equinos). Gente, eles são terríveis. Possuem uma intrincada rede de comunicação, artimanhas e sabem, mesmo que nunca o tenham visto, quem é você na hora em que estão diante de vossa pessoa. E eu estou na lista negra deles. Você pode até rir, mas é muito sofrido para pessoas perseguidas como eu. Cavalos e éguas do mundo inteiro estão avisados e preparados para me infligir as mais temíveis torturas.

Sabendo disso, os evito. Porém, muitas vezes não é possível escapar. Certa vez fui a uma fazenda com amigos e não tardou à dona vir com essa: então, pessoal, vamos passear a cavalo? Tremi. Fui educado e tentei declinar do convite, mas os ardilosos cavalinhos são talentosos em seus planos e conseguiram o seu intento usando-a como peão neste jogo de xadrez. Beto, não se preocupe, vou separar a égua mais mancinha que temos na fazenda, ela disse. Eu sabia que não faria diferença. Era apenas um ardil. Lá fora já esperavam quatro cavalos encilhados e mais a Docinho – a “minha” égua.

Avisei: vai dar cagada! Contudo, o pessoal insistiu e disse que tudo daria certo. Ledo engano. Montei e tentei tocar em frente. Nada. A desgraçada nem se mexia. Sabia que começava a minha provação. Vamos, sua filha-da-mãe, ande!, tentei ser autoritário, mas não adiantou. De repente, ela se move... de ré. E eu ali sem saber o que fazer. Ela não parava e eu, pow, pow, pow!, levando galho de árvore na nuca. Até que resolvi puxar a rédea e a Docinho, a égua “mais mancinha”, empinou. Escapei por um triz de me arrebentar no chão. Desci da lazarenta e, como fazia João de Deus, beijei feliz o chão firme em que pisava. O resto do pessoal seguiu no “passeio” e eu fiquei comendo bolo de milho na sede da fazenda.

Nunca mais subi num cavalo, mas isso não é motivo para que a O.M.T.P.E. não mantenha a sua perseguição. Outra vez, época em que eu trabalhava com recreação e lazer (imaginem o Tio Beto), fomos visitar um haras. Vamos passear de cavalo!, anunciou às crianças, em tom de euforia, um dos coordenadores da visita. Pensei: vai dar cagada ao quadrado. Felizmente o evento era simples. Pegávamos as criancinhas de cinco a sete anos, colocávamos duas ou três juntas sobre um cavalinho dos mancinhos (o que é um embuste, isso não existe. No máximo eles estão fingindo para, créu!, de sacanear depois) e um dos tratadores o puxava.

Tranquilo, né? O catso! Eu estava sossegado, do lado de fora da cerca, só observando. Foi aí que o tratador, que já devia ter dado umas trinta voltas arrastando cavalo com criança em cima pediu: Amigo, guia o cavalo um pouco, preciso ir logo ali. Não!, não sei fazer, respondi. É fácil, eu te mostro, ele retrucou. Até explicar que Jesus não é Genésio eu já estava com a rédea na mão. Era um cavalo cinzento e três criancinhas, loirinhas e remelentas, esperavam ansiosas, há horas, a sua vez de passear... e lá fui eu.

Percebi que o cavalo, mesmo fingindo olhar pra frente, me observava com um ar de satisfação. Ele devia estar armando alguma. Preveni-lhe, ao pé-do-ouvido, bem baixinho para não parecer maluco: Escuta aqui, o problema de vocês é comigo, deixe as crianças de fora. Não obtive resposta. Ele veio pacífico, trotandinho, colado ao meu ombro direito, até o fim da cerca. Foi quando percebi que precisávamos virar à direita, pois estávamos rente à cerca da esquerda e logo bateríamos na cerca adiante.

Pensei, vou passar na frente dele e puxá-lo para a direita. Acelerei, como um Rubinho... Ok, vou melhorar isso. Acelerei como um Janson Button para a ultrapassagem, mas o pocotó pisou no pedal junto. Filho-da-puta! Cada vez que eu tentava a ultrapassagem ele acelerava e não deixava. Parti então para o desespero e resolvi empurrar com o ombro, mas o desgraçado fez força ao contrário. Quando vi eu estava parado, rodeado pela cerca à frente, à esquerda e pelo cinzento quadrúpede à direita. Suspirei resignado e fiquei ali, quieto, esperando socorro. O tratador chegou rindo e disse que tudo ficaria bem.

Faz algum tempo que não os encontro mais. Todavia, hoje, anos depois daquela fatídica tarde, percebi que a O.M.T.P.E. de alguma forma continua sua campanha contra este que vos fala. Só que de maneiras mais sutis... mas tenho certeza que são eles. Estão fechando parcerias com outras instituições a fim de conseguir nos atormentar – mesmo que estejamos em nosso território urbano. E, pior, seus tentáculos não fazem discriminação nenhuma na hora de escolher as armas (sujas) para jogar. Portanto, já vou avisando: cuidado com as garrafas-pet de refrigerante!

Hora do almoço. Preparo meu prato com o risoto requentado de ontem e pego uma garrafa de guaraná na geladeira. Como sempre, abro com parcimônia. Ela ameaça explodir e esguichar, mas o ar sai aos poucos e tudo se resolve. Guardo na geladeira novamente. Sinto vontade de outra dose, vou à geladeira e pego a garrafa. Bom, imagino, o gás perigoso já foi expelido. Na-na-ni-na-não!, abaixo a guarda e o castigo vem a cavalo (perdoem o inevitável trocadilho).

Quando eu giro a tampa um vulcão sobe. Rapaziada, nem Noé poderia prever tamanho dilúvio em minha cozinha. Uma melequeira daquelas. É guaraná pra todo lado. Pior, quando percebi o que vinha pela frente tentei tampar de supetão e direcionei acidentalmente o jato na minha cara. No desespero saí correndo com a garrafa na mão e fui fazendo a festa. Tudo ficou coberto de guaraná. Geladeira, microondas, pia, mesa, fogão... sobrou até pro meu cachorro.

Como sei que isso foi um ataque premeditado? Simples, porque foi só a primeira horda, a linha de frente. Agora mesmo estou tendo problemas com outros aparelhos que estão tentando me enlouquecer e devem estar mancomunados. O comput dor n~o registr m is letr “ ”, e isso est´ me deix ndo m luco. M s, n~o!, n~o vou me entreg r ssim. Esse filhos-d –put v~o ter o que merecem. Pr me silenci r eles v~o ter que tr v r o tecl...