Os segundos que não cabem em meu dia...

Tou aqui tentando escrever um texto... Escrevo vários que não posso publicar.

E aquele... aquele único que gostaria de escrever não consigo, fica aqui dentro se contorcendo, gemendo, implorando pra nascer... mas sempre que se dá vida a alguém se apaga a vida que aqui dentro ia... já não nos pertence.

E eu não quero deixar esses sentimentos irem nessas palavras que desprendo, quero gestá-los sem fim...

Saudades de minhas palavras, quando os sentimentos eram enebriantes e leves, tão leves que me davam a tranquila segurança de que algo tão suave agradava o vento que brincando o levava e o trazia sempre à mim...

O sentimento de agora é tão pesado que sinto que o meu amor é como uma cadeira com uma perna quebrada, que logo retiram da sala para que ninguém caia... como a cadeira não está mais lá eu me recuso a sentar em outra, rejeito apoios e paliativos, fico de pé todo o tempo, e vivo assim entre o cansaço e o medo de cair de mim mesma. No entanto também não te busco do sotão porque também tenho medo de me assentar e de novo cair de ti. Fico assim, sem encontrar descanso em minhas próprias pernas e sem poder confiar na força das suas.

Sabe aquelas caixas de presente que quando a gente abre um boneco é impulsionado pela mola saindo de vez e nos assutando? Pois é, eu tive um daqueles quando criança, eu sempre me assustava, mas depois achava graça, ria e abria de novo e de novo... Assim são suas aparições. Você me assusta, mas sempre me encanta, me põe um sorriso nos lábios e lá vou eu te abrir e te abrir outra vez...

Alguns segundos não cabem no meu dia, os segundos que penso em nós quando não deveria pensar. Os segundos em que sinto tua mão atrás da minha nuca. Os segundos em que respiro teu cheiro em meu travesseiro. Esses segundos não cabem em meu dia, porque é esmagadora a tua ausência agora.

Hoje logo cedo vi várias pessoas e boas intenções e tantos, mas tantos motivos pra ser feliz, que até quis sorrir, mas me puni. E recebi alguns convites tão agradáveis pra sair, mas adivinhe onde estou. Isso mesmo. Estou sozinha em casa, como se não houvesse nada lá fora. Como se tudo isso fosse cruel justamente por ser bom e os convites agradáveis. Porque não aceito a existênciado do bom se isso não lhe inclui. Por isso prefirar ficar aqui com a imagem da lua pela janela e brincando aqui com teus fios de cabelo deixados para trás.

E como não sei lidar com a saudade e com o que estou sentindo, não consigo escrever tampouco. Mas deixo as letras soltas aqui...

a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v x y w z

... pra que você as junte dê formato as palavras e do meu silêncio consiga abstrair que eu ainda sei te sentir.

Ingrid Fernandes
Enviado por Ingrid Fernandes em 25/05/2009
Código do texto: T1613456
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