Falta conteúdo e sobra prepotência
Os ouvintes de rádio na cidade paraibana de Itabaiana reclamam da falta de conteúdo no jornalismo da Rádio Itabaiana FM, do Sistema Correio de Comunicação. Para muitos, a apresentadora Gil Costa apenas reproduz aquilo que se vê nos telejornais e cansa seus ouvintes com comentários fúteis, passando ao largo das notícias da região. Ainda reclamam da “programação repetitiva e de palavras soltas e vazias por parte dos locutores que de forma mecânica lidam com o público. Alguns comerciantes entrevistados questionam o fator monopólio, onde com arrogância enfiam goela abaixo valores exorbitantes para anunciar seus produtos, explorando o incipiente comércio local”.
A matéria foi publicada em blog de Itabaiana (itabaianahoje.blogspot.com), anunciando a inauguração de uma rádio comunitária que tem o mesmo nome de fantasia da rádio comercial. Para os ouvintes, a nova rádio, “está tendo boa audiência na cidade pela programação diversificada, com qualidade de rádio de maior porte, apesar de operar ainda em fase experimental. A rádio comunitária conta a seu favor com o desgaste da sua rival, passando à frente na audiência da 105,1”. O blog explica que a rádio comunitária vem despertando descontentamento na emissora do Sistema Correio, “que veicula mensagens confusas contra as rádios comunitárias”, tentando confundir o ouvinte. Rola até um boato na cidade de que quem sintoniza rádio comunitária pode ter seu aparelho danificado. Enfim, guerra declarada entre a rádio do poderoso Senador Roberto Cavalcante, membro da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado Federal, e a pequena estação que se diz comunitária. Na Comissão, o senador radialista já declarou: vai pedir vistas em todos os processos de outorgas de rádios comunitárias que aparecer.
Como radialista comunitário, já estou acostumado com essas mentiras que os meios de comunicação declaram sobre as emissoras de baixa potência e de controle público. Argumentos falaciosos de que rádio comunitária derruba avião e outras bobagens já são conhecidos de todos. Resta saber se realmente as rádios comunitárias são diferentes das estações comerciais. Numa perspectiva exclusivamente ética, acho que a quase totalidade das rádios que receberam outorga do Ministério das Comunicações procuram imitar as rádios comerciais, mesmo porque não têm outro padrão; as rádios que passaram a vida escutando são as que promovem o lucro dos donos, priorizam os produtos da indústria cultural, mesmo que seja lixo, e se voltam sempre para a defesa dos interesses das elites. Nessas rádios, os ouvintes são tratados como consumidores e não como cidadãos. No interior, as rádios comunitárias geralmente são ligadas a um grupo político ou religioso.
Espero que a rádio comunitária de Itabaiana não seja defensora do vale-tudo nesse meio tão corrupto e corruptor como é a mídia radiofônica. Se o povo organizado não tiver o controle intrínseco da rádio, será mais uma falsa comunitária a desgastar o movimento. Por exemplo, disputar audiência com a rádio comercial sem compromisso com a arte e a cultura do povo, fazendo entretenimento alienado, disfarçado de cultura, é um caminho sombrio. Fazeres há muito tempo incorporados na atividade de radiodifusão brasileira que dificilmente podem ser superados por novas formas de gerir uma rádio realmente popular, infelizmente. Negar a “cultura” dominante é papel de Dom Quixote. Substituir as formas tradicionais por formas inovadoras é uma luta a que poucos se propõem.