A Cultura do "jeitinho"

Todo mundo sabe que a criatividade do povo brasileiro tem características românticas, espirituosas, práticas e até avançadas, mas o que marcou mundialmente, passando a se constituir em “marca registrada”, de norte a sul do país, como mostra de grande genialidade inventiva, é o tal do “jeitinho brasileiro”, vindo assim a se tornar uma forma de orgulho ufanista, pela demonstração de inteligência e de capacidade de superação, apresentadas por um povo que sofre sérias dificuldades financeiras, políticas, de saúde, de segurança, de transportes etc., portanto justificando-se ações paralelas inusitadas, entrando em conformidade com a cultura contemporânea “civilizada”. Muitos poderão dizer que, graças à capacidade de adaptação e da vontade de seguir em frente perante as adversidades, o povo brasileiro tem o grande mérito de ultrapassar obstáculos com galhardia, o que não deixa de ser uma verdade, até certo ponto. _Então até que ponto essa verdade é verdadeira?

Quando, por razões diversas, alguém procura um caminho que possa contornar situações difíceis, usando sua criatividade, suas aptidões, seus conhecimentos e seu esforço concentrado, mesmo à custa de sacrifícios mil, com o emprego de recursos próprios, criando dentro de si a força do espírito de busca, aí sim poderemos afirmar, sem medo de cometermos injustiça, que estamos diante de um verdadeiro ser humano, que honra as “calças” que veste. Alguém assim é digno de admiração e de respeito, tendo grande valor pelo exemplo que está nos contemplando, passando-nos a força da coragem em seguir sempre em frente, em quaisquer circunstâncias, aceitando os caminhos espinhosos como desafios a serem enfrentados. A cada dificuldade vencida e ultrapassada surge o desenvolvimento da individualidade, assim aumentando cada vez mais a força de superação individual e o brilho do crescimento da personalidade.

Aquele que emana brilho e calor, próprios das personalidades marcantes, aquele que atrai para si a admiração dos outros ao seu redor, aquele que se torna o causador da felicidade das pessoas que o procuram e que, por essa razão, lhe transmitem grande sentimento de gratidão e apreço, com toda certeza será um verdadeiro vencedor, será um legítimo candidato a atingir o estado de iluminação.

Agora, temos de tomar muito cuidado para não cairmos em erro, que os povos estão cometendo nos dias de hoje, quando passamos a louvar personalidades que se tornam ídolos da opinião pública, cujas atitudes não passam de plena promoção pessoal, à custa de muita demagogia, de muito palavreado vazio, de ações mirabolantes inócuas que, “no frigir dos ovos”, não passam de “fogos de artifício”, para encobrirem diversas formas de sujeira e para jogar nos ombros de terceiros as culpas de seus próprios atos indecentes, eximindo-se assim de assumir responsabilidades, tanto próprias como daqueles que estejam sob seu comando. Temos de tomar muito cuidado para não cairmos no abismo da idolatria barata e interesseira, porque será esse o caminho certo para sofrermos o retorno dessa atitude imbecil, em futuro não muito longínquo, com toda a certeza, sem tempo de nos arrependermos.

Voltemos então ao nosso “jeitinho brasileiro”, para analisarmos mais de perto o que está acontecendo com nosso país – essa maneira de contornar situações adversas não condiz com a verdadeira forma de se resolver satisfatoriamente e meritoriamente os problemas, pois a criatividade de se “molhar a mão” de alguém para que algo escuso seja feito, em proveito próprio, em detrimento de outrem, constitui em ato de corrupção imperdoável pelas vibrações energéticas do mundo espiritual.

É graças à desgraça da prática do jeitinho que este país encontra-se na maior bancarrota moral e cívica, extrapolando para o exterior a imagem da impunidade, da violência sem controle e da falência das instituições – e ainda há quem tenha a desfaçatez de declarar que a culpa é da imprensa, que está mostrando essas mazelas para o resto do mundo, omitindo o que há de bom para divulgar, dessa forma afastando os turistas estrangeiros para longe daqui – é o cúmulo do cinismo!

Abaixo a cultura do “jeitinho”.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 25/05/2009
Código do texto: T1613017