TELEFONEMA TRUNCADO

Enquanto visitava uma pessoa da família, internada em um hospital da cidade, eu recebi, no celular, uma ligação telefônica, na qual o interlocutor pedia o meu e-mail, por solicitação da organização de um evento, para que pudesse enviar a programação. Estranhei porque, dias antes, havia fornecido todos os dados necessários ao próprio coordenador. Assim sendo, questionei que o vira anotar em um pequeno caderno, ao que a voz, do outro lado, me respondeu: professor, o senhor sabe...é a idade! A observação arranhou de leve os meus ouvidos e, como sempre que isto acontece, retruquei na bucha: então, com sua jovialidade, anote aí...Informado do que precisava, a voz cavernosa expressou o agradecimento do dono e pediu que aguardasse um pouco. Para minha surpresa, ouço o falar manso do coordenador, agora tomando conta da linha, assumindo uma pergunta que soou provocadora: como estás andando? Nesse meio tempo, como eu caminhava em direção ao carro, respondi: com os dois pés, ainda! Percebendo a minha ironia, tentou remendar dizendo: eu imaginei que, pela idade, você estivesse andando com o pau na mão. Embora tivesse certa noção do que o meu parceiro de diálogo queria dizer, não me fiz de rogado e emendei: não, amigo, as coisas continuam no seu devido lugar! Passadas quase vinte e quatro horas, até agora estou esperando a famigerada programação que motivou o contato.