QUANDO SOMOS FELIZES E NÃO SABEMOS...

Esta semana, especificamente, na quarta feira, eu estava em casa, pela manhã, e mudava a todo instante, no controle remoto, os canais de televisão. Em um, escolhido aleatoriamente, estava a falar uma doutora – não sei em que formação e nem em qual canal, não reparei – sobre a felicidade. E ela dizia que felicidade não é aquilo que desejamos alcançar, mas aquilo que temos ao nosso alcance. Achei interessante essa definição tão simples para um objeto tão complexo que nós, seres humanos, perseguimos a vida inteira.

Em cima disto, eu busquei, no filósofo grego Aristóteles, a melhor definição para o que eu havia ouvido. Ele dizia, há mais de 2 mil anos, que “a felicidade se atinge pelo exercício da virtude e não da posse”, o que me fez lembrar de quando casei e comprei a minha primeira casa. Minha esposa, na época, vivia insatisfeita porque queria uma casa maior onde ela pudesse pôr os utensílios domésticos que sonhava comprar.

Com o passar do tempo, nós conseguimos construir a casa que ela havia “desenhado” em sua cabeça – a que ia lhe trazer a felicidade de ter todos os objetos que ela havia idealizado -, mas, para meu espanto, com o decorrer do período, a casa grande, confortável, onde cabia tudo que ela sempre quis – e comprou – passou a ser um motivo de insatisfação, pelo fato de ser trabalhosa em trazê-la sempre bem cuidada e, com um agravante: quando estava sozinha, sentia-se insegura, abandonada. Hoje, o papel se inverteu: ela – vez por outra –, suspira e recorda de como era boa a primeira casinha, tão funcional, boa para se “arrumar” e, acima de tudo, aconchegante.

Isso me fez lembrar algumas situações vividas e/ou presenciadas, onde a felicidade pode ser percebida nos pequenos gestos, momentos prazerosos, alcançados, justamente, por serem de uma simplicidade feita de pequenos prazeres.

Por exemplo, a felicidade estampada no rosto de uma criança quando chupa um sorvete; o sabor de um beijo, dado num momento onde a saudade pode ser sentida; a casa cheia de amigos numa comemoração de aniversário; a lembrança da infância – onde morar numa casinha de taipa cheia de redes no vão da frente era prazeroso porque, do único quarto que ela tinha, vinha a voz melodiosa de uma canção que embalava o adormecer de cada um dos membros da família humilde e sertaneja; enfim, a felicidade se faz presente quando deixamos fluir de dentro de nós o nosso desejo de viver o momento, o aqui e agora, o seu recorte de realidade cotidiana.

Pensando assim, eu passei a me questionar sobre a riqueza – o dinheiro como fórmula para se viver uma felicidade – e vi que, diante dos conceitos acima, a felicidade não está atrelada ao poder financeiro, pois ela não é imutável, mas um estado de ir e vir, onde até a própria infelicidade faz parte do processo de desenvolvimento para se alcançar a felicidade: uma maneira de se pensar e repensar conceitos e atitudes e amadurecer novos projetos.

Deste modo, enquanto escrevo esta crônica – e minha esposa vai e volta, fala ao telefone ao meu lado, pergunta-me alguma coisa e tira-me a concentração, percebo que a felicidade está, justamente, no prazer de se fazer as coisas que estão ao seu dispor, de maneira simples, sem que precisemos bloquear as coisas ruins ou nos opormos a aquilo que não queremos. Isso nos dará a oportunidade de vivermos a nossa essência, sem nos preocuparmos com o que poderemos alcançar no futuro.

Por fim, uma definição de felicidade segundo Daniel Gilbert – professor de psicologia da Universidade de Harvard, EUA: “É difícil dizer o que é, mas sei quando a vejo. É simplesmente se sentir bem”.



 
Obs. Imagem da internet
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 24/05/2009
Reeditado em 06/12/2011
Código do texto: T1611803
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