Na calçada, a vida
Ela acordou com alguém lhe tocando a face.
-Acorda.Está na hora-Era a cafetina que a acolhera desde que chegara ali.
Abriu os olhos e rapidamente voltou a sua realidade.
Havia deixado sua cidade há uns seis ou sete meses.A pobreza condenava a levar uma vida de explorações,as mais variadas.
Ou aceitava ou mudava-se dali.
Novamente a voz:
-Vamos,está esperando o que?Que te sirvam na cama?As outras já estão comendo e a noitada já vai começar.
-A calçada te espera.Vai comer e se arrumar.Tem cliente o bastante,feriadão prolongado.
Nina levantou-se.Pegou sua toalha,foi até o banheiro e despiu-se aos poucos.Olhou-se no espelho.
Nossa,estava tão magra e abatida, se a mãe lhe visse agora...
Entrou no chuveiro e deixou que a água morna a acalenta-se.Saudades dos abraços dela.
Da sua mãezinha.
Chorou tanto o dia que me viu entrar naquele ônibus.Sabia que seria sem volta.Ouviu vozes na porta para que andasse logo,havia mais gente querendo tomar banho.
Espantou seus sonhos,enrolou-se na toalha e saiu.
Lá fora a noite já começava aparecer.
Engraçado,havia trocado seu turno de trabalho.Agora dormia durante o dia e trabalhava a noite.
Vestiu-se,maquiou-se,penteou-se e passou perfume.Ali era assim,nenhuma menina podia ser suja,mal arrumada ou fedida.
Calçou as sandálias.Juntou um batom que colocou na bolsinha e foi até a cozinha,onde as outras meninas já estavam terminando.
Tomou um prato de sopa ,limpou os dentes e saiu.
As luzes da cidade a fascinavam.
No farol um malabarista brincava com bolinhas ,distraindo motoristas e pedestres.
Parou absorta,observando as bolinhas misturarem-se e não cair.
Por alguns instantes esqueceu-se da mãe,da pobreza ,e de toda exploração pela qual estava exposta.
Apenas sorriu.