PREGÃO
No séc. XVIII, nas vilas de Minas, quando morria um sujeito rico ou importante seu cortejo era comandado por um pregoeiro, geralmente alguém que possuía uma voz forte, grave e alta. Ia pelas ruas e distribuía aos berros, ordens, orientações, limitações e mandamentos para o povo. Esse, por sua vez, tinha que cantar alto ou fazer barulho em homenagem ao defunto. O cara ganhava audiência para o morto, literalmente no grito. Essa solenidade se chamava pregão.
Eu, em vez de arranjar um jeito de ganhar algum aos berros, não! Fico aqui tentando achar explicação e relacionar os fatos, procurando origens, escarafunchando a história atrás de esclarecimentos para tantas coisas que vivemos e nem damos conta dos significados. Felizes aqueles que ganham o seu, pouco ou muito e vão tocando a vida sem muitas preocupações filosóficas, gnosiológicas, e outras bobagens da existência.
Ficava curioso para saber o que falavam aqueles corretores que aparecem na televisão na hora que vão dar as cotações das ações das empresas. O que subiu, o que baixou, quantos pontos. Os caras ficam com um telefone gritando cada um mais alto que o outro, que deve ser para ninguém ouvir. Dizem que saem de lá todos os dias afônicos, atrás de gengibre para agüentar o outro dia. Em São Paulo, o comentário é de que a Bolsa passou a funcionar somente a partir de 11 h da manhã exatamente pra dar tempo deles recuperarem a garganta.
Aquele berreiro todo não homenageia nenhum morto rico, mas gente ganhando um dinheirão. Vivo! E quanto mais alto o tom, mais o sujeito deve estar ganhando. É, porque nessa mesma história, quando chega a perder muito mesmo, com a mesma velocidade que encheu os bolsos, o que vemos é o cara se desesperar e se matar ou então morrer de um colapso fulminante. E seus velórios costumam ser tão silenciosos...