O grito do urutau

Para quem nasceu e passou a infância no interior, em lugares ermos, escuros, sem a iluminação das cidades, cheios de crendices e povoados por assombrações, casos misteriosos, contados pelos mais antigos, que, ou haviam testemunhado estes fatos ou foram-lhes contados por pessoas de confiança e juravam ser verdadeiros.

Embora não passasse de folclore, o povo simples acreditava piamente em tais fatos e todos tinham algum caso para contar, alguma passagem estranha para a qual não havia explicação plausível.

Eu pequeno, não fugia a regra, tinha meus medos e minhas crenças. O saci, o neguinho do pastoreio, a caapora, o boitatá, o curupira, o velho do rio, o velho do saco, a velhinha do pesadelo, todos faziam parte do mundo que eu vivia.

De todos o que mais me amedrontava, nas altas horas da noite, era o grito do urutau, espírito que vagava em busca de não sei o que. Só que de sobrenatural nada tem o tímido pássaro chamado urutau, que só conheci depois de adulto. Esta ave alimenta-se principalmente de pequenas mariposas noturnas e durante o dia permanece imóvel junto ao tronco de alguma árvore, é necessária muita atenção para notá-lo, já que sua camuflagem é perfeita, confunde-se com um galho seco ficando praticamente igual aos outros.

Mas que seu grito, principalmente para quem houve pela primeira vez, causa um sobressalto e amedronta isso é verdade.