Diferenças culturais e artísticas
Deus creou o homem livre! – senhor do seu próprio destino – O deu a escolher entre este e aquele caminho: o bem ou o mal – lembrando que Deus é bondade em beleza, não é sua vontade que sua creação se perca por caminhos obscuros... O mundo não podia ser outra coisa senão dinâmico! Que graça seria se todas as coisas tivessem a mesma forma, a mesma cor; se todas as frutas tivessem o mesmo gosto? Se todos nós fossemos de rostos idênticos e tivéssemos as mesmas preferências?... Não, não seria dinamicidade, mas sim monotonia!
Que estandarte devemos hastear: o estandarte da desavença ou da compreensão? Bem dizia Rui Barbosa, “não se evita a guerra preparando a guerra. Não se obtêm a paz senão aparelhando a paz.” Devo eu impor meu modelo pensado de cultura como unicidade? Devo classificar esta ou aquela expressão artística como soberana? Ai, como seria triste ouvir todos os instantes uma só sinfonia de mesmos acordes!... Como seria chato dançar uma dança ritmada a um ou dois passo!... Como triste seria ver a mesma decoração em todas as fachadas de todas as casas!...
O que me convida a escrever, não o ódio de pensar que existem artistas patriarcas, que apegam as coisas já existentes em seu país rejeitando manifestações culturais vinda de outros países, sob o pretexto de apagar o que afirmam ser autênticos de seu povo, quando na verdade o real papel do artista é ser ele um apostolo do universo, das diversidades!... E não conservador de orgulhos, pensamentos equivocados quando esta ou aquela manifestação artística.
Se eu não aceito determinada cultura vinda de outra etnia acabo por impor uma barreira separatista entre um povo e outro, o que contraria o ideal de paz entre as nações!... As expressões culturais devem servir não de discórdias, mas de aproximidade entre este e aquele continente – esta é a religiosidade da arte: aproximar as pessoas a dividir seus saberes contribuindo assim para um mundo mais justo e mais humano.
Só sei o sabor de algo depois do saborear... Não posso rejeitar uma canção sem antes ouvi-la, nem criticar uma expressão artística numa tela sem repensar o que realmente quis o autor ali nos passar, se é de validade ou não. Se meu amigo aprecia um ritmo musical que não me agrada, devo buscar compreendê-lo, e não me irar contra ele! Se, de fato, a mensagem artística que passa é de negatividade, não devo repudiá-lo, mas procurar meios eficiente de transformá-lo, pois o papel da arte é harmonizar o individuo, preenche-lo da beleza universal que o transborda a alma em felicidade, algo benéfico, construtivo...
Nada e ninguém nos podem obrigar a gostar de algo forçadamente... Eu devo degustar daquilo que é prazeroso e que traz bons benefícios a meu organismo, assim também é na dança, na música, e em tantas outras mais expressões artísticas... Se determinado grupo de jovens “curtem” uma dança ou uma música que contribuem efetivamente na sua formação social, tornando-o um cidadão mais licito devo, em vez de repudiar, aplaudir, pois nas ações dos jovens é que está o futuro do nosso planeta!... Ao contrário, devemos repudiar a imoralidade, o vandalismo, o neonazismo, uma realidade freqüente no mundo afora... Juntar nossas forças em prol da humanidade e não desperdiçar em discussões funestas...
Meu dever como cidadão cultural, como ativista das boas causas, não é separar esta daquela expressão artística enumerando sua autenticidade, não criar ódio de uma manifestação cultural, mas abraçar meus irmãos da arte, da verdadeira arte que liberta o ser humano das algemas do egoísmo fanático, que derruba os tabus do orgulho que impede de aceitar as diferenças culturais como dinamicidade...
(Agnaldo Tavares
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