Males do Coração
Muitos usam a expressão: Males do coração.
Quando se referem a alguém que sofre por amor... mas porque atribuir tais angústias ao coração quando é nossa mente, nosso cérebro o causador de tantas provações...coração este, tido como traidor e algoz, apenas se deixa enredar pelas teias da paixão, que o vende ao vazio, sem dó nem piedade.
Nossa mente, depositária de lembranças, sensações vividas em momentos de volúpia, faz de vítima o indefeso coração que fica à deriva absorto em solidão.
Ah o pobre, é rotulado como culpado apenas porque nos traz a sensação física, o descompasso, o palpitar louco e disrítmico.
Mas será que o vilão dessa história toda não seria nosso olhar, que se deixa cativar por alguma razão quando se espelha e se escraviza vislumbrado pelo brilho de um outro olhar ?
Ou seria nossa pele que se rende ao toque, ávida em busca de carícias... de arrepios plenos de calor ?
Ou nossos ouvidos que se deixam levar pela voz, pelos sussurros, por um riso macio, ou por palavras docemente ditas em confissões balbuciadas, declaradas e declamadas sempre secretamente?
Ou de nosso olfato que se vê surpreendido, irremediavelmente sucumbe a algum perfume, não os comprados em perfumarias e sim, o cheiro que exala de um corpo, como ópio aprisionando o espírito?
Coração vítima de sua função, a de com seus batimentos nos manter vivos, mas a razão dos males de amor está no conjunto dos sentidos, a dita química, que o faz ficar entre a cruz e a espada, confinado no peito de um eterno sonhador.