ERNESTO KOWALSKI
Ernesto Kowalski era meu amigo. Veio da terra do “Capitão Rodrigo” e se estabeleceu aqui, em meio à mata de cerrado e seriemas no mourão das cercas. Virou um empresário bem-sucedido, dono do “Supermercado Alvorada do Sul”, onde eu ia comprar pão e tudo o mais que precisava, para o consumo diário. Havia sempre um dedinho de prosa. Assuntos amenos, sérios, da cultura sul-rio-grandense. De manhã, quando eu passava para o trabalho, lá estava ele, com a cuia de chimarrão na mão, os olhos por detrás dos óculos como que a construir parábolas. Acenava-me, num gesto breve e firme. Era um homem de princípios, o meu amigo Ernesto Kowalski.
Aprendi com ele a gostar do Sul. Ficava imaginando como seriam as alvoradas no sul, a serra gaúcha coberta pela neblina, o vinho tinto, o minuano soprando nos parreirais. Então eu me lembrava de Érico Veríssimo. Todos os seus livros têm como cenário o Rio Grande do Sul. Como era bom, na juventude, ler “Olhai os lírios do campo”, “O tempo e o vento”, “Incidente em Antares”. Junto a essas leituras, ouvia Elis Regina, a gauchinha de Porto Alegre, e decorava as letras das músicas que eram sucesso no país em sua voz: “O Bêbado e a Equilibrista”, “Aquarela do Brasil”, “Águas de março”. Elis morreu em 1982. Em 1985 a jornalista Regina Echeverria publicou “Furacão Elis”, biografia da cantora, que comprei e li, aumentando, em muito, a minha admiração pelo Sul. Teve ainda Kleiton & Kledir com as belas “Tô que Tô” e “Deu pra ti”. Nesta última eles cantam a saudade da “Redenção/ Do Fogaça e do Falcão/ Cobertor de orelha pro frio/ E a galera no Beira Rio”. Falcão era então o craque do Internacional e da Seleção.
Ernesto Kowalski era meu amigo. Infelizmente não pude ir ao seu velório, estava viajando. Esta crônica é para que, lá à margem do Guaíba celeste, ele estenda a mão envolta em luz e nos abençoe a todos. Valeu, tchê! O jeito é ir tocando em frente, lendo Moacyr Scliar e escutando Adriana Calcanhoto, para continuar aprendendo sobre o Sul e sua gente.