NO GOSTO DO CHOCOLATE

Marina beijava Arthur com gosto de chocolate. Era chocólatra e beijoqueira. Depois namorou outro sabor nos lábios de Marcello, era menta e misturado ao seu sabor, lembrava-lhe o chocolate com pimenta. Marina tinha dezesseis anos. O tempo corria, e os sabores mudavam. Menos o sabor em sua boca: sempre chocolate. Com sua pouca idade, comparava os diversos paladares. Separava simpatias pelo adocicado. Um dia beijou um fumante e pensou: “nem com aqueles olhos azuis que cintilam ternura!”. E concluía: “Bocas sem chocolate não merecem beijos”. Pelo menos, não os dela. Não gostou da mistura de cerveja com chocolate. Muito amargo, pensou. Rum, uísque, “dá para entender”, ponderava a menina. Afinal um bombom com recheio etílico vai bem.

Mas, a menina cresceu. O juízo prevaleceu. Houve um tempo, o tempo que a tudo destrói e constrói. Na sua vida, trinta anos depois, viveu tempestades e calmarias. Foi feliz, fez feliz. Infeliz, desiludiu-se. Armou-se de coragem e seguiu em frente. Teve filhos. Outros vinte anos se passaram. Os filhos se foram. A solidão muitas vezes instalou-se em sua alma. Em toda a sua vida: trabalhou, orou, viajou, amou. Hoje, já não lhe importam os beijos “achocolatados”. Aliás, não lhe importam mais beijos, a não ser fraternos e carinhosos ou “selinho” “no máximo” pensa a idosa menina. Mas, a sua boca, não tão carnuda e apetitosa como antes, ainda tem o gostoso sabor. Afinal, ela viveu e vive no gosto do chocolate.