Trancado em casa - crônica de uma manhã patética...
Trancado em casa - crônica de uma manhã patética...
(Goiânia, GYN, trancado em casa, pressa, crônica patética)
O despertador do celular certamente tocou, mas acabei passando da hora de levantar e, ir cuidar da vida.
Vesti as roupas correndo, peguei o celular, óculos e a chave do carro e, fui correndo pra garagem, depois de fazer um cafuné na cachorra e, a filhotinha.
Dei partida no carro, pus ele lá fora e, o deixei ligado pra ganhar tempo. Voltei, então pra trancar o portão. Quando fechei seu cadeado e, consultei o bolso, me lembrei que as chaves da casa e da portinhola do portão estava lá fora, dentro do carro!...
Fiquei apavorado em perceber que me encontrava agora numa situação complicadíssima - o carro estava lá fora, ligado e com a porta do motorista aberta e, eu fechado, cercado pelos muros da minha própria casa. Bateu logo uma sensação de estar preso numa espécie de arapuca urbana, erigida por mim mesmo, a título de proteção, como todo mundo, pois, na medida em que aumenta o número de ameaças e insegurança, sobem os muros das casas, nas maiores cidades.
Mas, como resolver o problema, sair e, enfim, ir para o trabalho? Comecei a andar pelo quintal, em busca de solução rápida. E improvisei. Peguei uma cadeira da mesa de jantar da área e, enquanto a trazia, vi, encostada no muro lateral da casa, uma escada .
Esbaforido e, preocupado com o aquecimento do motor do carro ligado lá fora, levei a cadeira e a escada até o o muro do portão. Foi quando constatei que não daria pra pular ali, onde na área de entrada do lote. Então, arrastei as duas para a esquerda e percebi que a "operação escapada" ia sujar e arruinar minha roupa.
Fui correndo até a casa, tirei a roupa que vestia, pus camiseta, calção e chinelos e, voltei (oh, oh, aí, constatei que a casa tinha ficado sem trancar!...).
Voei de volta à escapada. Encostei a cadeira no muro, agarrei a borda dele e, puxei o corpo para cima. Aí, tentei levar a perna pra colocar em cima do muro. Não dava, a perna destreinada travava no meio do caminho - aquela caimbrazinha insidiosa já sinalizando. Lá fora, a ventoinha do ventilador do radiador da carro já cantava a musiquinha do aquecimento do motor.
Arrastei a cadeira e, a escada até o canto do muro, onde a terra era mais alta. Escanteei a cadeira no muro, e aí, consegui levantar a perna e subir - ótimo, porque os seus estavam afundando na terra, com meu peso razoável.
Montei, então, em cima do muro lateral, pra depois passar para o muro da frente. Notei então duas pontas de ferro da alvenaria que o vizinho havia deixado, na última reforma. Perigo! Uma força danada pra dobras as danadas.
Nessa hora, lembrei da vizinha motoqueira que saia toda manhã, mais ou menos no mesmo horário que eu. Torci muito, mas não a localizei, para me socorrer. Pouco acima, vi o carteiro e, pensei em pedir sua ajuda (senão, socorro), mas, ele estava numa situação complicada: depois de entregar a correspondência numa casa quase em frente à minha, enfrentava o cachorrinho que voltava da rua e o estranhava. Por conta de seu semblante de poucos amigos, deixei pra lá.
Não tinha jeito, tinha que ir em frente. Puxei a escada pra cima do muro e, a desci do outro lado. As vigas de sustentação dela eram meio finas, mas, não dava mais para pensar naquilo. Segurei no tubo do relógio, firmei na escada com uma mão e, projetei o corpo pra cima dela. E, enquanto ela tremia com meu peso (e, eu rezava baixinho, pra ela não quebrar), fui descendo -sucesso!
Corri até o carro, desliguei a partida, peguei as chaves do portão e da casa, me sentindo mais seguro e, dono de minhas modestas posses.
Voltei pra dentro pra vestir a roupa de trabalho e, passei a mão pelo rosto suado – banho e, a barba, que havia esquecido de fazer...