COMO VIVER SEM SE MATAR? ("A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais." — Epicuro))

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Todas as coisas dessa vida matam o homem! E nenhuma o faz viver além do último portal que já lhe foi determinado. Todos nós, no mundo, somos suicidas e homicidas às prestações, O que comemos e/ou bebemos, ou ainda respiramos e até o que sai de nós demandam contra nossa existência. Uma vez, descobrindo-se que nem requer coragem para viver, caminhamos conscientemente na direção do fim, pelo o atalho mais curto. "Depois da morte não há nada e a morte também não é nada" (Sêneca). Uns poucos demoram um tanto mais para aposentar-se no pó, fazendo uma caminhada cheia de curvas; outros tantos mais, já aposentados do trabalho, engordam os vermes que dependem de sua carne macia e lânguida, que se derrete pela ociosidade tão desnecessária à sobrevivência, nesse caso, esperam pelo fim sentados. Quem conterá a morte? Paulo confirma aos Romanos: "Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (Romanos 7:24).

O que seria viver com qualidade? Tomar o remédio que cura e faz outra doença? Ou consumir só alimentos naturais, mas cheios de conservantes do mundo do comercio lucrativo e "eficiente" que você não conhece? É a vida ou é a morte ou a morte antes da vida. Aliás, mais morte do que vida! Então disse Steve Jobs: "Nascemos, vivemos por um momento breve e morremos. Tem sido assim há muito tempo. A tecnologia não está mudando muito este cenário."

Quando Jesus disse para aqueles que recusaram a vida: — "deixe que os mortos enterrem os mortos" estava vinculando a sua maior verdade sobre a natureza humana. E, por outro lado, incentivando que os vivos enterrem os vivos, na contra partida. Será que ele se esqueceu que as ideologias e o fanatismo matam? Deu no que deu, ao fomentar a inversão de valores: a gente morre mais tentando viver do que vive tentando morrer, e não adianta nada! A farra toma conta.

Talvez, caiba agora uma referência às festividades anestesiadoras das pessoas felizes sem razão. Como se sentem os foliões após o carnaval? Mais cheio de vida ou mais próximo da morte? Às vezes, não entendo o Pregador quando diz que o sentido da vida é fechar os olhos para a morte: "Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe o teu vinho com coração contente; pois há muito que Deus se agrada das tuas obras. Sejam sempre alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque este é o teu quinhão nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol."(Ecl,9:7-9). Essa passagem bíblica me parece um incentivo à irresponsabilidade existencial. Comprovamos no poema:

"Instantes"

De Nadine Stair?

Atribuído a Jorge Luís Borges

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,

na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido;

na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos,

viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,

subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui,

tomaria mais sorvete e menos lentilha,

teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu

sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.

Claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver,

trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feito a vida:

só de momentos - não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma

sem um termômetro, uma bolsa de água quente,

um guarda-chuva e um pára-quedas;

se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no começo da primavera

e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua,

contemplaria mais amanheceres

e brincaria com mais crianças,

se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos

e sei que estou morrendo."

Por tanto, a irresponsabilidade não traz mais vida, mas a faz mais intensa e portanto, desgastando-a mais rápido. Um atalho para o fim! "Mors certum est"!!!