Prisão domiciliar

Às vezes quero colo. Às vezes peço a morte antecipada e nada acontece. Provavelmente a vida seja assim mesmo: morrer, ressuscitar, morrer de novo e ressuscitar outras tantas vezes - quantas forem necessárias ou preciso!

Amanheci sonolento, na verdade nem sei se estou acordado. É possível que esteja em estado latente de convulsão. Minha visão não consegue ter o horizonte, nem meus braços estendidos conseguem aparar qualquer coisa. Talvez você não saiba da minha angústia, nem tão pouco da minha vontade estonteante de voar. Vejo meus passos ficando para trás como se todos os que sonhei dar, já houvessem perdido a esperança de um dia galgar o mais vistoso dos cumes. Para ser sincero nem sei como seria isso, pois morro de medo só de pensar que teria que sair de casa para escalar as escarpas de uma montanha, mesmo que imaginária.

Todas essas coisas antecedem o meu fim e também o seu, uma vez que você faz parte do meu Eu. Não tenho a pretensão de assustar quem quer que seja e, talvez, por isso mesmo, exponho de forma clara e sucinta, as ranhuras de minhas mazelas. Sou uma metáfora de mim mesmo, resquícios do que fui ou deixei de ser, ainda ontem.

__ Ah, me lembrei da inscrição do “Portal do Inferno” de Dante Alighieri: “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança!". É isto que está acontecendo comigo. Sou obrigado a deixar para trás todas as esperanças que tinha de um mundo mais justo, mais fraterno. Sou obrigado a me trancar com grades de ferro para que não me vejam e me roubem a céu aberto. Sou obrigado a fazer de minha casa e carro, os meus infernos.

Liberdade não é sinônimo esperança. Provavelmente só a morte nos tornará verdadeiramente livres.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 22/05/2009
Reeditado em 03/10/2017
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