" O Pecado Mora ao Lado"
E se tivessem ignorado a palavra de Jesus e atirassem as pedras? Matariam aquela mulher, mas não se livrariam dos pecados.
A natureza humana é a mesma de 2000 anos atrás. Os pecados vizinhos são apontados facilmente; os nossos escondidos.
Na peça O Rei Lear, escrita por Shakespeare, em 1606 estão explícitas a inveja , a ira e a soberba.
A luxúria é citada nos discurso senil do rei, assim como a avareza.
Apenas a gula e a preguiça ficaram fora do tratado. E não fizeram falta, pois a desgraça se fez sem esses dois pecados capitais.
Lá na Bretanha também se via melhor o pecado do outro.
Permanecemos pecando e afirmando que o pecado mora ao lado. Há os que pecam muito e gravemente, há os que pecam moderadamente e há os que quase não pecam.
Os primeiros estão nas manchetes derramando sangue ou anônimos gerando perfídias.
Os moderados convivem normalmente conosco. Um pecado ali, outro aqui.
E acreditem, conheço alguém em quem não se vê sombra de pecado algum. È quase um passarinho, daqueles serezinhos sem idade definida, e tem nome de flor. Mora aqui perto e me sinto péssima por não visitá-la com mais frequencia.
As tentações continuam na mesa, na cama, no bolso, na alma e na vida. Os instintos são fortes e os pecados são cometidos a olhos vistos ou não.
Peco quando tenho a pretensão de negar meus pecados. Nego-os por arrogância, medo ou excesso de culpa, que atribuo à formação opressiva da religião na qual fui criada.
Vale ressaltar que a espada da culpa não é propriedade católico-romana. Quase todas as religiões se fundam no temor e no castigo.
A boa notícia é que a piedade, o perdão e o amor também são sentimentos humanos e sustentam a nossa sobrevivência sobre a terra.
Acredito no Deus que ama incondicionalmente os pecadores e por isso tento abraçar os desacertos que me espinham a pele.
Sigo pecando, consciente de que se o mal nunca foi meu objetivo, ainda assim pequei e, certamente, pecarei, mas com muita vontade de acertar.
Ainda atiro pedras, porém já sei reconhecer quando me engano e tenho certeza que não corrigirei meus erros debruçada na janela observando meu vizinho.
Evelyne Furtado, 2009.
Este texto faz parte do Exercício Criativo “Pecados Capitais”
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