NUMA NOITE CHUVOSA
(ao poeta-amigo Vivaldo Bernardes)
Naquela noite chuvosa, lá estava ele, tão nervoso quanto um noivo diante do altar à espera da noiva. Angustiado, ele andava de um lado ao outro. Minuto a minuto olhava seu relógio, preocupado com o adiantado das horas, e nada de seus convidados chegarem.
Dava pena vê-lo daquele jeito, pois era um desespero justificável: os ponteiros já marcavam 18 horas e 50 minutos e a festa estava marcada para as 19 horas.
Dos convidados, somente eu havia chegado. “Será que eles vêm?”, perguntava ele. “Vêm sim!” - eu respondia – “eles estão esperando a chuva diminuir”.
E nada de a chuva diminuir; nada de os convidados chegarem...
Enfim, chega um, todo encharcado. Já eram 19 horas e 30 minutos.
A chuva começava a diminuir... Os convidados começaram a chegar. Uns protegidos por sombrinhas; outros, por capas anti-chuva; alguns, por pedaços de papelão. Em pouco tempo, o auditório já estava ocupado por seus convidados.
Finalmente o Mestre de Cerimônia dá início à festa...
A angústia, antes estampada no rosto daquele menino octogenário, dera lugar a um semblante igual ao de uma criança que acabara de ganhar um brinquedo novo. Seus lábios marcados pelo tempo e escondidos sob um fino bigode branco esboçavam um tímido sorriso; seus olhos, ao mesmo tempo em que marejavam, brilhavam de felicidade, pois, enfim, sua tão sonhada NOITE DE AUTÓGRAFOS estava se realizando.